Entrevista:O Estado inteligente

domingo, julho 24, 2005

DORA KRAMER Longe deste sensato mundo

O Estado de S Paulo


Lula vive em cena virtual, como protagonista de um reality show para platéia dirigida Não há mais parâmetros a medir nem critérios a seguir para tentar entender o que, afinal de contas, pensa o presidente da República a respeito, nem digamos da crise, mas da realidade em si, do País que acredita governar.

"Não existe mulher nem homem neste país de 180 milhões de habitantes que tenha coragem de me dar lição de moral e de honestidade. Está para nascer alguém que venha querer me dar lição de ética", desafiou Luiz Inácio da Silva, repetindo conceito transmitido à Nação dias atrás, segundo o qual é ele o único fiel depositário da moral e dos bons costumes no Brasil.

Retomou também o discurso de ataque "às elites" que se imaginava abandonado, por inconsistente e, sobretudo, incoerente com o perfil de boa parte dos eleitores de outubro de 2002 e dos mais que vieram se juntar em apoio a seu governo a partir de janeiro de 2003.

O estado emocional do presidente compreende-se; pela primeira vez em décadas de vida pública é alvo de desconfiança no campo da moral.

Forjou carreira acostumado a lisonjas e reverências por sua origem e trajetória. Quando criticado, contou com o contraponto da denúncia do preconceito e, ao assumir a Presidência da República, foi recebido como a representação da redenção nacional.

Acreditou nos superlativos, não deu a eles a real dimensão do happening cívico que assolava o Brasil, não levou em conta que exageros têm duas vias (a mão que acaricia se dá o direito de apedrejar) e agora toma como manifestação de insidiosa ousadia a suposição de que possa, pelo fato de ser o presidente, ter alguma responsabilidade sobre atos de corrupção em seu governo ou no partido do qual é o maior símbolo e ao qual entregou a administração da maior parte da máquina pública.

Portanto, o estado emocional do presidente compreende-se.

Impossível de entender nesta altura é a ausência de qualquer sinal de racionalidade em sua mente. Ninguém está, entre os 180 milhões de homens e mulheres deste país, a querer ministrar-lhe lições de ética. Bem como, já foi dito à exaustão, "as elites" não se movimentam no sentido de exigir que baixe a cabeça.

Ao contrário. O que há tempos se pede ao presidente é uma demonstração inequívoca de entendimento a respeito do que seja o dever de um governante, a começar pela aplicação, ele mesmo, de seus preceitos éticos ao comportamento de seus subordinados no governo ou companheiros de partido.

Em momento algum o presidente Lula mostrou-se disposto a tratar desse tipo de assunto com a seriedade que o País merece, incluídos aí todos os casos de conduta imprópria.

Desde a viagem particular com recursos públicos da então ministra Benedita da Silva para Buenos Aires - tratada com a complacência de erro administrativo - até o mais rumoroso dos desvios, o da entrega de missão de confiança da Casa Civil a um funcionário cuja desonestidade comprovada foi reverenciada com a prerrogativa da demissão "a pedido".

Nem um só episódio de malfeitoria mereceu do presidente da República uma ação enérgica que lhe pudesse conferir autoridade para se postar acima do bem e do mal como acredita ser seu direito inalienável à custa do rebaixamento moral de seus compatriotas, dos quais busca, de forma ofensiva, subtrair o direito à cobrança de responsabilidade inerente e à altura do cargo.

A todos os suspeitos o presidente conferiu o benefício, não da dúvida, mas da certeza da inocência a priori. Seria de esperar que tivesse aprendido a lição aplicada por Roberto Jefferson, em favor de quem advogou sem medir conseqüências.

Não aprendeu, como de resto continua ignorando que o Brasil é maior e mais complexo que porcentuais de pesquisas de opinião.

A defesa

A propósito de referências a respeito de seu comportamento durante o depoimento de Delúbio Soares e do uso do habeas-corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, bem como sobre a conduta do comando da CPI em relação aos limites da salvaguarda, o advogado Arnaldo Malheiros envia mensagem cujos pontos são aqui resumidos.

1. "Uma investigação deve apurar a existência ou não de ilícito independentemente da participação do suspeito. O fato de um investigado não colaborar na ação contra si próprio não é insolência; é apenas defesa."

2. "A Constituição garante a qualquer acusado o direito ao silêncio, ou seja, o direito de não responder a nenhuma pergunta sobre qualquer assunto, a critério exclusivo da defesa."

3. "Não tem fundamento jurídico a afirmação de que o presidente da CPI poderia recorrer contra a liminar concedida pelo STF."

4. "Quanto a minha postura na CPI, asseguro que não há desrespeito ou pouco caso contra ninguém. É muito difícil passar 15 horas num depoimento como esse, e é comum que os presentes (parlamentares, assessores, jornalistas, funcionários) conversem, sorriam ou exibam expressões faciais".

Bem comparando

Observação de um brasileiro em busca de explicações: "Talvez o marxismo tão defendido pelo senhor José Dirceu seja baseado na obra dos irmãos Marx e não em Karl Marx."


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