No que foi imediatamente apelidado Operação Paraguai, em alusão à mentirosa Operação Uruguai no governo Collor, Valério e Delúbio construíram uma versão claramente fantasiosa para desmentir o mensalão denunciado pelo deputado Roberto Jefferson e a corrupção no governo Lula que começou a aparecer no vídeo dos Correios.
Eles negaram uma coisa e outra. O que houve entre 2003 e até bem pouco foram apenas os empréstimos "pessoais" de Valério, ou intermediados por ele, coisa de R$ 39 milhões, com os quais Delúbio permitiu que os seus companheiros e os dos partidos da base aliada quitassem dívidas da campanha de 2002 e bancassem a de 2004.
Os empréstimos irrigaram o caixa 2 de candidatos a todos os cargos eletivos – menos o de presidente da República – do PT, PP, PL, PTB, PSB, PC do B e da ala governista do PMDB. Para não admitir delitos piores, como cobranças de propina, favorecimentos e contratos superfaturados na administração federal, além dos meios utilizados para a formação da base parlamentar do governo Lula, a dupla confessou a prática de um crime eleitoral presumivelmente cometido por políticos de todas as legendas – o financiamento ilegal da disputa pelo voto popular.
O estratagema, a que decerto não ficou alheia a criatividade profissional dos criminalistas contratados por Valério e Delúbio, é provavelmente a defesa menos ruinosa ao seu alcance. Ao mesmo tempo, embute uma ameaça: se a oposição for longe demais nas investigações, tampouco sairá ilesa.
Não teria o ex-ministro José Dirceu dito que, se tiver de depor na CPI dos Correios, poderá "arrastar junto o Brasil"? E não disse o presidente Lula em Paris que "o PT fez do ponto de vista eleitoral o que é feito no Brasil sistematicamente"?
E não é absolutamente estranha a própria entrevista? De um lado, tem-se um presidente que, alegando estar no exterior, se negou a falar de assuntos domésticos aos jornalistas brasileiros que cobriam a visita e só quando assediado por um deles, que conseguiu atravessar o bloqueio armado ao seu redor, disse que "o Brasil não merece o que está acontecendo" (sem se dar conta do duplo sentido da frase).
De outro lado, tem-se um presidente que, pouco antes de voltar ao Brasil, aceita ser entrevistado para uma TV francesa indefinida por uma desconhecida free-lancer brasileira que conseguiu entrar no palácio onde ele se hospedava sem a companhia de um cinegrafista.
Depois, a delicada entrevista de 7 perguntas é comprada pela Rede Globo para exibição no Fantástico. Em suma, Lula escolheu uma forma de se dirigir aos brasileiros sobre a qual tinha absoluto controle e que não o sujeitaria ao risco de um embaraço. E isso para afirmar, em óbvia sintonia com Delúbio e Valério, que "o PT está sendo vítima do seu crescimento", que as atuais denúncias "não chegaram ao governo", que depois de ser eleito não pode mais participar das decisões do partido e que "a direção ficou muito enfraquecida" (porque os "melhores quadros" foram para o governo) e "possivelmente por isso cometemos erros que outrora não cometeríam
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