Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 22, 2005

Editorial de A Folha de S Paulo SILÊNCIO REVELADOR

 Exercendo o direito de calar-se em defesa própria, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares foi alvo de um longo e por vezes exaltado interrogatório na CPI dos Correios, durante o qual negou a existência do "mensalão" e insistiu na tecla de que é o responsável pela montagem de um esquema de movimentação de "recursos não-contabilizados" para saldar compromissos eleitorais.
O ex-tesoureiro empenhou-se, mais uma vez, em proteger a cúpula petista e o Planalto, assegurando que não tinham conhecimento das operações. Tentou também reavivar a surrada tese de que está em curso no país uma conspiração com o objetivo de "desestabilizar" o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -como se a irresponsabilidade, o aventureirismo e a incompetência política de membros do governo e de seu partido já não fossem suficientes para ameaçá-lo por conta própria.
Ao final do cansativo espetáculo, marcado por declarações inverossímeis e silêncios reveladores, ficou a convicção de que as "explicações" apresentadas pelo homem que cuidava das finanças do PT são uma peça ficcional que não encontra amparo nos documentos e indícios até aqui reunidos pela CPI.
O próprio presidente da comissão, o senador petista Delcídio Amaral (MS), reafirmou ontem o que já saltava aos olhos de muitos: os dados disponíveis refutam a versão de que o dinheiro se destinava apenas a apoios para campanhas. Os sinais são de que houve pagamentos de "bônus" e "reforços" salariais, caracterizando o que o deputado Roberto Jefferson chamou de "mensalão".
Se os pagamentos obedeciam ou não a uma periodicidade mensal, não faz diferença: tudo indica a existência de um vasto esquema de remuneração de quadros petistas e parlamentares aliados com recursos de caixa dois. E não resta dúvida de que tal esquema -como indicava uma série de iniciativas anteriores- está associado ao que já se apontou exaustivamente como um "projeto de poder", ou seja, à captura e ocupação da máquina pública com vistas a assegurar a permanência do PT no comando do Estado.

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