O Estado de S. Paulo |
8/7/2005 |
Nos bastidores da crise, Thomaz Bastos atua para assegurar a estabilidade institucional A mansidão das maneiras, o comedimento dos gestos e o semblante imperturbável de sempre não revelam indícios da preocupação presente no quê de tensão que o ministro Márcio Thomaz Bastos não consegue disfarçar no tom da voz, mais baixo, e no ritmo da conversa, menos fluente que o habitual. Personagem central do governo nos bastidores da crise, o ministro da Justiça atua em frentes estratégicas e transita em terreno acidentado. Daí a pesagem e a medição minuciosa de cada palavra antes de ser dita. É ele, por exemplo, o encarregado de auscultar a oposição a respeito de um assunto delicado: sem pronunciar a palavra impedimento nem explicitar sem nuances o assunto, Thomaz Bastos sente o pulso de gente como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Antonio Carlos Magalhães a respeito. "Ninguém quer", interpreta ele, para concluir, então, que não havendo ambiente para desestabilizações institucionais voluntárias, a saída da crise é uma questão de tempo, competência e, sobretudo, providências. Na sua visão, é fundamental que o governo consiga inovar em matéria de produção de resultados na apuração das denúncias. Tomar a dianteira e, valendo-se da Polícia Federal, conseguir provas suficientes para que a Justiça possa condenar, ou absolver, os acusados sem deixar que os efeitos do escândalo se esgotem na cassação de alguns mandatos parlamentares. "A sociedade não ficará satisfeita e o País não superará etapas no tocante às condutas públicas se houver um acordo para escolha de alguns sacrifícios políticos e tudo se encerrar por aí." Ele lembra que no caso de Fernando Collor só Paulo César Farias foi punido pela Justiça e, no episódio da CPI do Orçamento, nenhum dos cassados sofreu processo judicial. Mas o corte, no caso atual, atingirá só a carne alheia? "Não é isso, a disposição é de fechar os olhos e ir em frente", assegura o ministro da Justiça, que não revela detalhes das investigações da PF mas indica dois focos já identificáveis de infrações passíveis de comprovação: superfaturamento de contratos de prestação de serviços a órgãos públicos e licitações fraudulentas. No que tange ao envolvimento do governo e do PT, Márcio Thomaz Bastos acha que o pior já apareceu: o aval do publicitário Marcos Valério Fernandes a um empréstimo tomado pelo PT ao BMG. Um baque e tanto, admite. Na opinião - com jeito de torcida - dele, nada de mais grave pode ocorrer com potencial de atingir o governo de forma fatal. Do ponto de vista da administração da crise, considera providenciais os afastamentos de José Dirceu da Casa Civil e dos dirigentes da cúpula do PT e, em relação à figura do presidente, expressa convicção no distanciamento de Lula de qualquer tipo de irregularidade. Incluindo aí a família do presidente? "Tenho certeza absoluta, não há nada." Donde, então, pode-se concluir que o projeto de reeleição não sofreu abalos, continua no horizonte presidencial? "Continua." São reais as conversas que circulam entre os personagens já visitados por ele a respeito da possibilidade de aliados do governo apresentarem proposta de extinção da reeleição a fim de abrir caminho à desistência de Lula sem que isso pareça capitulação antecipada à possibilidade de derrota? "Comigo ninguém falou a respeito, nem no governo nem na oposição." Não há plano B para uma eventualidade? "Como tese, alternativa sempre há." E mais o ministro da Justiça não se permite falar, nem mesmo como hipótese com o mero intuito de raciocinar. Diário de bordo Márcio Thomaz Bastos começa a pensar seriamente em publicar, ao fim de sua participação nos trabalhos governamentais, os registros que faz há dois anos e meio de fatos vividos e reflexões produzidas no cotidiano do poder. Redige à mão, porque só tem tempo de fazer isso depois do expediente, no hotel onde mora em Brasília, e não há computador no quarto. O ministro já preencheu 12 cadernos dos grandes. Dois ficam com ele e os outros dez escondeu muito bem escondidos em São Paulo. Thomaz Bastos começou a registrar tudo desde a posse e não falha um dia. Quando não há nada de significativo, escreve lá: "Nada", mas escreve. Aval da Receita Relatório da Receita a ser divulgado hoje, mostrando que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não sonegou impostos e teve evolução patrimonial compatível com seus ganhos, pode servir de sustentação à sua permanência no cargo. Tida como certa até quarta-feira, a saída de Meirelles do BC ontem já não era dada como questão resolvida. Internamente, sua situação é considerada muito diferente da condição do ministro Romero Jucá, da Previdência. Titãs Há gente informada apostando qualquer dinheiro que o embate entre PT e PSDB pelo governo de São Paulo porá em cena, frente a frente, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, e o tucano ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza. Ressalta-se, entretanto, a volatilidade dos cenários nesses tempos de baixa resistência aos efeitos do tempo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, julho 08, 2005
Dora Kramer - O guardião do rei
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