Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, julho 14, 2005

DORA KRAMER A dança dos santos desnudos

O Estado de S Paulo



Rodízio de ministros não tem utilidade prática para administração da crise Tirando a impressão de que o governo propriamente dito é o que menos importa, as mudanças feitas no ministério pelo presidente Luiz Inácio da Silva não permitem que se chegue uma conclusão sobre seu significado e utilidade prática.

Saíram os ministros da Educação, do Trabalho e da Saúde para a presidência, a secretaria-geral e a secretaria de comunicação do PT respectivamente; saíram os ministros da Coordenação Política e da Ciência e Tecnologia para, alega-se, reforçar o diálogo e preservar o que resta da base de apoio no Congresso.

Saíram os ministros dos Direitos Humanos e da Pesca para não se sabe exatamente o quê; saiu o ministro das Comunicações como medida preventiva diante de rumores sobre novas denúncias.

Saiu a ministra das Minas e Energia para ocupar a Casa Civil, de onde já havia saído o ministro original para atender ao imperativo do escândalo; sairá o ministro da Previdência Social também em atendimento (atrasado) aos efeitos de uma investigação.

Transferiu-se o ministro da Comunicação e Gestão Estratégica para local mais discreto (uma seção da Casa Civil), também como forma de precaução e proteção contra as denúncias de uso da máquina pública para favorecimento privado.

Do desmonte, então, já sabemos o desenho. Fica faltando o perfil da remontagem, cujo esboço não promete.

No PT, a troca de guarda tirou de cena os alvos centrais da denúncia, mas não resolverá o problema, porque a crise não é de pessoas, é de procedimentos.

No governo, Lula substituiu uma parte dos ministérios por profissionais de carreira respeitável, mas sem peso político. Um critério em tese melhor para o desempenho das pastas, desde que o presidente tivesse gosto e atributos para exercer liderança administrativa.

Outra parte do primeiro escalão Lula deu para o PMDB em troca da promessa de obter mais 15 deputados além dos 50 que já apóiam a "governabilidade". É o caso de perguntar qual a vantagem de ter 65 deputados ao preço de repetir o padrão da barganha em plena crise de questionamento ético.

Dois ministros, um do PSB e outro do PC do B, foram removidos para o Congresso alegadamente para recompor a base parlamentar; na verdade, foram demitidos por pressão do PT, que não quis ficar sozinho no expurgo. Assim sendo, qual a disposição dos partidos dos ex-ministros para recomposição do que quer que seja? Nenhuma, claro.

Bem como não é possível enxergar a vantagem administrativa da submissão funcional de Luiz Gushiken a Dilma Rousseff, da devolução das Secretarias de Direitos Humanos e Pesca aos ministérios originais e da criação da Secretaria do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Social e Relações Institucionais - na realidade, a união de nada a coisa alguma.

O chamado "Conselhão" já nasceu desprovido de sentido e as "relações institucionais" - o novo nome para a coordenação política - serão feitas a partir do Congresso.

Ou não foi para isso que os ministros políticos foram mandados de volta?

Talvez sim, talvez não, sabe-se lá, pois parece mais que o governo desvestiu muitos de seus santos, não vestiu outros tantos e corre o risco de deixar todos eles nus.

Agente 86

A desmoralização do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Mauro Marcelo de Lima e Silva, era questão de tempo.

Vocacionado para o vedetismo, o delegado desde os primeiros dias de sua gestão frente à Abin revelou especial pendor aos excessos de oratória, submissão aos ditames do governo e não do Estado, ausência de noção sobre a natureza do cargo e total desconhecimento a respeito dos mecanismos primários dos Poderes institucionais.

Logo na posse, fez discurso defendendo a reeleição de Lula. Não surpreende que agora, no afã de prestar serviço ao chefe, registre, e assine, documento com ataques virulentos aos integrantes da CPI dos Correios e, por extensão, ao Congresso.

No Parlamento ontem, não sobrou pedra sobre pedra da reputação do delegado, cuja demissão foi transformada em questão de honra.

É luxo só

O surpreendente não é a eficiência da Polícia Federal para descobrir sonegação de impostos na Daslu.

O espantoso é a ineficiência da PF para desvendar as atividades de Waldomiro Diniz, há um ano e meio sob investigação.

Em discussão

Dois temas ainda estão em debate no cenário das mudanças no ministério: a transferência da administração das emendas parlamentares para o Ministério do Planejamento e a saída da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

O ministro Paulo Bernardo quer as emendas, mas o substituto de Aldo Rebelo na Coordenação Política, Jaques Wagner, pretende ficar com elas.

Na hipótese de Marina sair mesmo, assumiria em seu lugar o senador Tião Viana.

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