Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, julho 15, 2005

DORA KRAMER : Cegos, em pleno tiroteio

o estado de s paulo

Governo e oposição estão igualmente perdidos, sem enxergar luz no fim da crise De um lado, o governo concentra energia na preservação do presidente da República, consciente de que é o único patrimônio que lhe resta.

Do outro, a oposição fica no aguardo da melhor hora, forma e lugar para atirar diretamente em Lula sem, contudo, parecer o seu algoz.

Mas nenhum dos dois lados sabe como levar a bom termo seus planos. Governo e oposição são antagonistas nos objetivos e companheiros de infortúnio na ausência de rumo. Estão ambos totalmente perdidos.

Converse-se com dois, três, até quatro ministros e a impressão será a mesma: ninguém sabe para onde ir nem faz a mais pálida idéia de como será o dia de amanhã.

Não se sabe se perdurará a "blindagem" em torno do presidente ou quanto tempo levará antes de a economia começar a ser afetada pela política. Aqui, a maior preocupação é a redução drástica de investimentos em função da crise.

Dialogue-se com dois, três, até quatro destacados políticos de oposição e a sensação será idêntica: não há rumo ou certeza a respeito da melhor tática a ser adotada.

É precipitado concluir que a declaração do líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio - " o presidente ou é idiota ou é corrupto" -, faz parte de uma estratégia já pautada pelos bons índices de popularidade de Lula registrados na pesquisa de terça-feira. O tucano explodiu em função de uma acusação capciosa feita por um deputado do PT.

Expressão eloqüente mesmo da confusão estratégica vigente na seara oposicionista foi a recente idéia de sugerir ao presidente da República que tomasse a iniciativa de desistir de disputar a reeleição.

A fim de facilitar as coisas, a oposição se propunha a apoiar uma emenda constitucional pondo fim à reeleição e dando cinco, no lugar de quatro, anos de mandato para presidente, governadores e prefeitos. Havia no PSDB até quem não descartasse a hipótese de propor prorrogação de um ano para Lula.

Como os balões de ensaios soltos aqui e ali a respeito do assunto foram muito mal recebidos, os próprios autores das propostas e seus defensores mais aguerridos - como Fernando Henrique Cardoso e José Serra - trataram de recuar ao ponto de Serra assumir o papel de destruidor da sugestão em reunião da direção do PSDB.

E, com isso, está a oposição sem bandeira alguma esperando os acontecimentos. Se as coisas melhorarem um pouco para o governo, o presidente Lula começará a ser alvo de ataques diretos e bem pesados.

Os tucanos não sabem, porém, como fazer isso numa calibragem ideal. A dúvida é: como ajudar a dar um empurrãozinho ladeira abaixo na popularidade de Lula sem fazer o papel de carrasco da esperança popular.

Há sinuca também para o caso de o escândalo tomar a trilha do gabinete presidencial e lá dentro montar seu acampamento.

Se os fatos arrastarem o presidente da República para o centro da confusão, o mais provável é que os oposicionistas não ajudem a que a possibilidade da interrupção constitucional do mandato se imponha. Ao contrário, podem até - por interesse eleitoral - diminuir a intensidade da luta política.

Não fazendo algum tipo de acordo - algo como um pacto explícito pela sustentação de Lula -; nem governistas ousam sonhar com isso.

Entraria nesse cenário uma redução de velocidade. Não tão discreta que pareça covardia nem tão evidente que soe a acochambro e torne a oposição sócia da crise.

O governo, pelo menos seus integrantes mais sensatos, tem noção desses dilemas todos e reconhecem que a oposição está fazendo mais do que não atrapalhar, está objetivamente ajudando.

Mas no Planalto e cercanias vigora também a certeza de que para tudo há um limite, não convém dar sorte ao azar. Portanto, urge a tomada de providências.

O que fazer, então? Em relação às investigações, nada a não ser repetir a tese do "doa a quem doer" e rezar. Aos ateus fica a opção de torcer.

E muito, para que não apareça nenhum fato de fácil entendimento popular para desmentir a versão da separação entre governo e PT. Este, sacrificado e desmontado até em sua capacidade de geração de recursos para o financiamento do projeto de poder encabeçado por Luiz Inácio da Silva.

O que o governo vai tentar fazer é pôr um pouco de ordem na sua área política, organizar as relações com o Congresso de modo a transmitir ao País uma impressão de que há vida normal para além das sessões das CPIs.

Os ministros parlamentares voltam para o Legislativo na segunda-feira. Na mesma data, o novo articulador político, Jaques Wagner, espera iniciar uma sistemática na qual o presidente da República mostre voz de comando sobre sua base parlamentar.

A idéia é fazer reuniões dele com os líderes dos partidos aliados na Câmara e no Senado para definir, semanal ou quinzenalmente, a pauta dos trabalhos no Legislativo de forma unificada.

Acertado o rumo, sob a batuta direta de Lula, o time no Congresso - reforçado pelos ex-ministros, à exceção de José Dirceu - executa as ações, nesta nova fase levando em altíssima conta as demandas e os pensamentos da oposição.


 

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