Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 23, 2005

CLÓVIS ROSSI Brasil, eis a tua cara

Folha de S Paulo

  SÃO PAULO - Você sabe se um país está podre quando:
1) O presidente da República declara de público que todo mundo pratica caixa dois sistematicamente. E ele não tomou nem uma miserável providência para coibir o crime. Ao contrário, aceitou gostosamente que seu partido também o praticasse.
2) Um deputado de notório comprometimento aponta o dedo para seus colegas e abre o jogo: "Somos todos iguais". E ninguém se suicida de indignação.
3) Alguém compra votos para aprovar o mecanismo de reeleição. Algumas poucas punições ocorrem, entre os comprados, não entre os compradores. E o eleitorado vota no beneficiado pela aprovação do mecanismo, sancionando implicitamente que os fins justificam os meios. De quebra, fica provado que popularidade e virtude nem sempre andam juntas.
4) Tudo isso ocorre sem que nem um só habitante desse infeliz país tire a bunda da cadeira para um panelaçozinho, a não ser meia dúzia de bacanas incomodados porque outra meia dúzia de bacanas foi incomodada pela polícia, por sólidas suspeitas de sonegação fiscal. Protesto justo, aliás. Se todo mundo faz caixa dois e se todo mundo sonega, por que a polícia vai incomodar os bacanas com amigos bacanas?
Se todas as situações descritas acima ocorrem em certo país tropical chamado Brasil, não é mera coincidência. É porque esse país está podre -e não é de hoje.
Solução? Não tem, não. É impossível fazer um escambo pelo qual toda a elite tupiniquim seja trocada por suecos, digamos.
E é igualmente impossível fazer a bugrada tirar o traseiro da cadeira para buscar o direito de viver em um país menos podre.

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