FERNANDO RODRIGUES Pagadores e sacadores

Folha de S Paulo

Pagadores e sacadores BRASÍLIA - Há duas apurações vitais na CPI dos Correios. Primeiro, quem sacou a dinheirama das contas de Marcos Valério. Segundo, quem fez os depósitos nessas contas.
O difícil será convencer deputados e senadores a serem prestativos na hora de divulgar os nomes dos fornecedores do dinheiro. Por enquanto, só existe o festival de deputados e assessores que sacaram os recursos.
Já morreu de morte morrida a versão de que o dinheiro veio de empréstimos bancários contraídos por Marcos Valério a mando de Delúbio Soares. O trabalho dos técnicos da CPI agora é para demonstrar tudo com documentos. A tarefa é longa.
Os depósitos a favor de Marcos Valério serão justificados como se fossem pagamentos por serviços prestados. Bancos e multinacionais dirão ter recebido estudos e relatórios das agências SMPB ou DNA.
A CPI terá de quebrar os sigilos contábeis dessas empresas para verificar se o que está sendo apresentado como serviço é compatível com o preço cobrado. Será necessário mexer com os maiores doadores de campanha do país -para todos os partidos. A chance de prosperar uma investigação séria e profunda é mínima.
A melhor hipótese no momento é que os sacadores todos sejam identificados. Serão cassados os deputados e senadores envolvidos.
No caso dos fornecedores do dinheiro, os corruptores, a limpa possivelmente acabará ficando para uma próxima oportunidade.
Esse roteiro só será quebrado se alguém de dentro do esquema resolver quebrar o silêncio e contar em detalhes como funcionava essa "câmara de compensação" de dinheiro político. Ainda assim, como os protagonistas são grandes empresas, o delator terá de apresentar provas para não ser torrado em público.
Resumo da ópera: 1) a CPI dos Correios fará uma limpa considerável no Congresso e 2) do lado de fora o esquema sobreviverá. Até a próxima crise. Essa é a triste praxe na jovem e defeituosa democracia brasileira.