Já lá se vão quase cinco anos desde que a Goldman-Sachs escolheu quatro países que, na opinião de seus analistas, tinham potencialidade para se tornar importantes "players" na economia mundial do século 21. Construiu o acrônimo Bric para designar essas economias da "esperança": Brasil, Rússia, Índia e China. É claro que a situação inicial de cada um deles tinha peculiaridades que condicionariam o seu desenvolvimento. O Brasil apresentava uma economia industrial sofisticada, e a pesquisa agrícola e a possibilidade de expansão da área plantada tinham enorme probabilidade de transformá-lo num importante exportador (e, portanto, importador de bens de capital e de tecnologia) depois da flutuação cambial efetivada em 1999. A Rússia, depois do desastre político e da tumultuada apropriação de seu estoque de capital e dos recursos naturais pelos membros do antigo regime, desenvolveu rapidamente sua produção de energia. A Índia transformou-se num importante centro de produção de serviços essenciais à economicidade exigida pela feroz competição gerada pela globalização. A China, desde a corajosa e inteligente reforma de Deng Xiaoping (1979), alterou em 180º a orientação política da economia, transformou-se numa espantosa "base exportadora" para as empresas americanas e japonesas (associadas às chinesas) e entrou no século 21 cumprindo largamente, por antecipação, a profecia.
O Brasil tinha (e tem) uma vantagem sobre aqueles países: resolveu de maneira satisfatória o "acerto de contas" que sempre é a passagem de uma sociedade autoritária para uma sociedade democrática, conservando a sua integridade territorial e aprofundando a sua unidade. Rússia e China têm ainda de fazer essa passagem, e a Índia tem de acomodar as diferenças religiosas.
Para o analista que prospecta o futuro, esses problemas são sempre uma interrogação importante, pois uma transição tumultuada pode significar um grande desarranjo econômico.
Infelizmente, a vantagem inicial de nada nos serviu: nos últimos cinco anos (três de FHC e dois de Lula), atrasamo-nos de forma lamentável, como se vê na tabela abaixo:
Deveria ser evidente que, a despeito da melhora da situação econômica (promovida basicamente pela expansão das exportações), há qualquer coisa muito errada com nosso "mix" de política econômica. O uso abusivo da política monetária em condições adversas (e a absurda "crença" de que o Brasil não pode crescer mais do que 3,5% ao ano) transformou o real na moeda mais valorizada do mundo, pondo em risco as pífias melhorias obtidas até aqui.
Ou alteramos esse "mix" ou vamos ter de esperar o século 22 para voltar a incorporar alguma "esperança" num outro acrônimo...
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