Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 09, 2005

André Petry Qual a salvação?

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"O que resta é torcer para que, uma
hora qualquer, Lula aja. Aja como quem
viu a crise, entendeu a crise – e lancetou
a crise. O diabo é que talvez Lula seja
menor que
a crise"

O esporte nacional na política, agora, é especular sobre o seguinte: o que Lula deve fazer para salvar seu governo? Há várias alternativas. As mais elementares estão descritas no manifesto lançado pela esquerda do próprio PT. Em resumo, a esquerda petista prega um "choque ético-político". O que é isso? É não recorrer à ficção de que há "movimentos conspiratórios e golpistas". É suspender alianças nas quais a "barganha política sufoca o compromisso com a moralidade pública". É reduzir o número de cargos de confiança. É definir "fronteiras" entre o PT e o governo. Só assim, afirma a nota, Lula e o PT não transformarão "a chance histórica dada por 53 milhões de brasileiros" em "fracasso político e ético" do primeiro presidente de origem operária do país.

Existe alguma possibilidade de que isso seja feito?

Não, nenhuma.

Para tomar essas medidas, é preciso agir, ter força, sangue, verve – e o governo vive num estado que varia entre a perplexidade, a letargia e a catatonia. E o governo, quando finalmente age, aprofunda-se no erro original, como boi em direção ao matadouro. Agora mesmo, fez a "barganha política que sufoca o compromisso com a moralidade pública".

Lula tem dificuldade para agir. É notório que gosta mais de falar do que de fazer. É notório que é um líder de massas, não um administrador da máquina. Por isso mesmo, uma alternativa para a superação da crise é convidar Lula a falar, a explicar-se, quem sabe até pedir desculpas. O jornalista Clovis Rossi, da Folha de S.Paulo, escreveu isso. Sugeriu que Lula fizesse como Bill Clinton, que, depois de ser flagrado cedendo aos encantos da estagiária da Casa Branca, foi à televisão pedir desculpas. "Pedir desculpas ao público e à família", escreveu o jornalista.

Essa é a diferença com Lula. Clinton podia pedir desculpas com credibilidade porque cometera um deslize de caráter pessoal, personalíssimo aliás. Do qual, portanto, tinha absoluto controle, a menos que fosse adepto do sexo patológico.

Mas Lula não cometeu deslize de caráter pessoal. Seu erro é mais amplo, é político-administrativo, no mínimo. Vai pedir desculpas pelo quê? Por ter colocado no governo seus companheiros mais longevos e fiéis? Por ter construído sua carreira política dentro do PT? Por ter feito as alianças políticas erradas? Isso é uma ficção. É quase como pedir desculpas por ter sido eleito presidente.

Não, Lula não é Collor. E também não é Clinton.

Então, qual a salvação? Agora mesmo, discute-se outra alternativa, que não exige nem ação firme de Lula nem discurseira inútil: revogar a emenda da reeleição. É uma alternativa que só existe na cabeça dos políticos porque pode lhes acalmar os ânimos, dos tucanos e pefelistas, mas não resolve nada para a sociedade, que ainda quer, quererá sempre, uma faxina ética em que a sujeira salta aos olhos.

O melhor, o que ainda resta de esperança, é torcer para que, uma hora qualquer, Lula aja. Aja como quem viu a crise, entendeu a crise – e lancetou a crise.

O diabo é que talvez Lula seja menor que a crise.

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