Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 13, 2008

Os amorais e Lula, o inimputável

Os amorais

Em sua coluna no Globo de hoje (ver trecho abaixo), Merval Pereira trata de uma questão que tenho amiúde abordado aqui: o desassombro dos petistas para agir contra a moralidade e/ou a lei, na certeza de que permanecem impunes. E permanecem.

Vejam lá o caso da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB). Já houve protestos de rua, e há protocolado um pedido de impeachment. Acusação contra a governadora: ela é aliada do principal acusado de corrupção. O caso no estado é grave? É, sim. E tem de ser apurado até o fim. Comprovado o envolvimento da chefe do Executivo, que seja impichada. Mas observem que ela já está condenada. Porque assim são eles. Assim eles fazem. No caso da Alsom, em São Paulo, a coisa é ainda mais interessante: contratos de 10 anos passados, com aprovação do Tribunal de Contas do Estado, estão sendo esmiuçados. De novo, é preciso investigar, apurar etc e tal. E notem: aqui, teria havido corrupção, mas ainda não se conhecem os supostos corruptos.

Vamos ver. Imaginem se o filho de FHC ou de Serra tivesse como sócio uma empresa que faz um negócio ainda ilegal, na certeza de que o governo mudará a lei para legalizá-lo. O caso existe. Só que o filho é de Lula. A empresa em questão é a Oi. Ontem, a Anatel deu o primeiro passo para pôr na lei o que a empresa já praticou. E com financiamento de um banco oficial. Isto mesmo: o BNDES financiou uma operação que ainda era ilegal. Imaginem um compadre de Serra andando no Palácio dos Bandeirantes com o desassombro com que Roberto Teixeira anda no Palácio do Planalto — e fazendo negócios que dependem de ações do governo.

Perversidade
Lula, de fato, é inimputável, e essa inimputabilidade se estende a seus subordinados. A imprensa acaba presa de uma lógica — ou falta dela — das mais perversas. E vou esmiuçá-la abaixo. Contra não-petistas, indícios bastam para sustentar semanas de noticiário. Muitas vezes, reportagens são publicadas ancoradas apenas em versões de adversários políticos e pareceres de advogados, alguns envolvidos com as causas. E ATENÇÃO PARA O QUE VEM AGORA.

COMO O PT COSTUMA DIZER QUE É PERSEGUIDO PELA MÍDIA, os jornalistas se deixam intimidar por esta deslavada mentira e tentam provar AOS PETISTAS que são independentes. Notem: certos ramos da imprensa só se sentem confortáveis se, ao lado de uma acusação contra o PT, houver também uma contra os tucanos ou os democratas.

O noticiário, especialmente o eletrônico, no dia do depoimento de Denise Abreu, demonstra que a lógica, no caso dos petistas, é invertida. Quantos não lemos o seguinte título: “Denise nega que Dilma tenha dado ordem para...”? É uma estupidez! Nem poderia dar ordem. Não havia vínculo funcional. A acusação era de pressão. Imaginem se uma agência reguladora pode ser chamada na Casa Civil para prestar esclarecimentos de fazer inveja a Fidel Castro, quando ele ainda vivia: nove horas de duração!

O desassombro com que Roberto Teixeira circulava na Anac e na Presidência da República está comprovado por fatos, fotos e documentos. Mas, candidamente, pede-se, no caso dos petistas, o que não ocorre pedir no caso de Yeda ou da Alstom: “Cadê a prova?”. Como lembra Merval em seu texto, se Lula for flagrado metendo a mão num cofre público, dirão que está pondo dinheiro lá, não tirando.

Os vagabundos
A petralhada me acusa de ser mais severo com a canalhice petista do que com a dos outros. É uma mentira estúpida, mas não estou nem aí. Não ligo para o que eles dizem de mim. Mais do que isso: não quero que eles gostem de mim. Mais ainda: eu não os considero juízes competentes do meu trabalho. A mim, eles não pautam. Vocês não vão me ver aqui fazendo micagens para que petistas digam: “Pô, esse Reinaldo até que diz alguma coisa sensata”. Eu não quero ser sensato para aqueles que me detestam — e cujos procedimentos políticos repudio. Essa gente só não censurou a imprensa até hoje porque seus arreganhos autoritários foram repelidos. Mas eles tentaram. Eu os desprezo também por isso. Eles sabem, sim, o que é democracia. Mas não gostam dela.

Aqueles em cuja avaliação confio — e não são meus aliados ideológicos necessariamente — sabem que sou rigoroso com o tal bem público, talvez até excessivamente moralista. Tarde demais para mudar. A minha pinima (para usar um termo de origem tupi, já que sou indiodescendente) com os petistas, além do desassombro com que tratam como privado o bem público, tem, sim, esta característica adicional: eles se consideram dotados de direitos especiais para fazer aquilo de que acusam seus adversárioos.

Para os outros, rigor absoluto e condenação antes do julgamento; para si mesmos, a mais descarada impunidade.

Lula, o inimputável

Trecho da coluna de Merval Pereira no Globo de hoje intitulada “Sem constrangimentos”:

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[Roberto] Teixeira pode não ter feito nada de ilegal, embora restem dúvidas sobre alguns pontos, mas sua atuação, digamos, desassombrada, permite a classificação de "imoral" dada por Denise Abreu no depoimento no Senado. E também sua filha Waleska Teixeira, que teve a petulância de se apresentar à diretora da Anac como "afilhada" do presidente.
Há, além do mais, relatos que revelam que Teixeira tinha um codinome íntimo nos círculos de poder. Era "o papai". No tempo em que os bichos falavam, e as questões morais eram levadas em conta na vida pública, um advogado como Roberto Teixeira, o compadre do presidente Lula, não poderia atuar em questões que envolvessem decisões do governo.
(...)
Evitar que a "liturgia do cargo" de presidente da República seja afetada por atividades de amigos e parentes deveria ser prioridade do homem público, mas Lula considera-se acima do bem e do mal, e em condições da fazer tudo aquilo que criticava em seus antecessores.
(...)
O investimento de R$ 5 milhões em 2006 que a Telemar injetou na Gamecorp, empresa que tem Lulinha entre seus sócios, não apenas causou espécie na ocasião pela singularidade do negócio, como inevitavelmente torna vulnerável a decisão do governo de permitir a união entre a Oi/Telemar e a Brasil Telecom para a criação de uma supertele nacional, com financiamento do BNDES.
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O mesmo PT que caiu de pau no governo de Fernando Henrique Cardoso quando o BNDES ajudou na formação de grupos para disputar a privatização das telefônicas, e viu irregularidades e interesses escusos em todos os estímulos dados pelo governo, agora no governo atua diretamente para viabilizar esse supernegócio, e atuou na venda da Varig, acrescentando o toque familiar às inevitáveis acusações de favorecimento.
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