Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 14, 2008

O triunfo do capital privado

Venda de ações da petrolífera de Eike prova que a bolsa de
valores tem musculatura para financiar o crescimento do país


Cláudio Gradilone

Mauricio Lima/AE

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Pregão da BM&F, em SP: no capitalismo, o mercado financeiro dá lucro a pequenos investidores e ainda financia o crescimento



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A abertura de capital da companhia de petróleo OGX, a terceira empresa criada pelo empresário Eike Batista que chega à bolsa de valores, impressiona pelos números envolvidos e pelo ótimo desempenho dos papéis em sua estréia – as ações chegaram a subir 19% na sexta-feira, antes de fechar o primeiro dia de negociação com alta de 8,3%. As cifras chamam ainda mais atenção num momento em que os mercados de todo o mundo enfrentam dias de incerteza e instabilidade, devido à crise financeira americana. Nesse cenário, o sucesso espetacular da OGX dá a dimensão da transformação por que passa a bolsa de valores brasileira. Com a queda na taxa básica de juro, as ações negociadas na Bovespa têm sido a melhor aplicação disponível no país nos últimos cinco anos. Em 2007, por exemplo, o Ibovespa (índice com as principais ações da bolsa de São Paulo) teve alta de 44%, contra 11% dos fundos de renda fixa e menos de 8% de rentabilidade da poupança. Assim, cada vez mais os investidores brasileiros deixam aplicações tradicionais, como os fundos DI e de renda fixa, e migram para as ações – colocando dinheiro em fundos de renda variável ou comprando diretamente os papéis.

Estima-se que perto de meio milhão de brasileiros possua ações, sem contar os que investem por meio de fundos ou planos de previdência. Essa demanda fez com que cada vez mais empresas buscassem o mercado de capitais para se financiar. Desde 2004, houve 161 lançamentos de ações, num total de 131 bilhões de reais. Em 2007, a bolsa forneceu mais dinheiro ao setor produtivo do que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Setores que nunca haviam participado do mercado acionário, como o de carnes, construção civil e saúde, hoje têm representantes no pregão. É um sinal de que o capitalismo começa a fincar raízes mais sólidas no país e já não se depende tanto das fontes públicas de recursos. Mas, quando se arrisca a comprar ações, sobretudo de empresas novatas, o investidor precisa ter em mente que o potencial das empresas novatas nem sempre se concretiza.

No caso da OGX, dizem os analistas, existe sim um bom potencial, devido aos preços elevados do petróleo. Além disso, as recentes descobertas no litoral brasileiro podem colocar as reservas do país entre as maiores do planeta. Nesse sentido, o comprador de uma ação da OGX pode vir a ser sócio de grandes jazidas petrolíferas. Por ora, no entanto, isso não passa de uma aposta. Além disso, a experiência brasileira dos últimos quatro anos demonstra que nem sempre esse tipo de aposta vale a pena. Boa parte dos IPOs – as ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês – feitos no país recentemente decepcionou, e os papéis das empresas são vendidos hoje por menos do que valiam no dia do lançamento. Um levantamento realizado pela Economatica, empresa especializada em informações financeiras, mostra uma trajetória irregular dos papéis das companhias que estréiam na Bovespa. Há valorizações estupendas, como a acumulada pela empresa de locação de automóveis Localiza, cujas ações tiveram alta de 518% nos últimos três anos. Existem, no entanto, casos como o da operadora de cartões de crédito CSU CardSystem, que viu seus papéis cair 72% em dois anos. "Mesmo que a empresa mostre bons resultados, participar de uma abertura de capital é mais arriscado do que comprar uma ação que já é negociada há tempos", diz Edmundo Valadão, sócio do banco Geração Futuro. "Como a empresa não tem um histórico em bolsa, é mais difícil prever o desempenho de suas ações."

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