Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 17, 2008

O perfil dos movimentos sociais


editorial
O Estado de S. Paulo
17/6/2008

Pesquisa feita pelo Ibope mostrou que há uma clara divisão entre as pessoas entrevistadas a respeito dos movimentos sociais que atuam no campo - 50% manifestaram-se contrárias à atuação dessas entidades e 42% declararam-se favoráveis. As entrevistas foram realizadas entre 26 de abril e 6 de maio, antes da última onda de invasões promovida pelo MST e pela Via Campesina em todo o País.

O levantamento foi realizado em cidades de pequeno, médio e grande portes em todas as regiões do País, sob encomenda da Vale, empresa cujas instalações e ferrovias se converteram nos últimos anos em alvo preferencial de protestos violentos, como atos de sabotagem, ocupações e depredações. O diretor de Relações Institucionais da Vale, Walter Cover, informa que a pesquisa ajudará a empresa a definir seu relacionamento com as comunidades onde atua e esclarece que a reforma agrária não passa de pretexto para protestos políticos. "Os movimentos querem a mudança do modelo econômico ou fazem reivindicações que nada têm a ver com a Vale", diz ele.

O levantamento constata que entidades como as Comissões Pastorais da Terra, o Movimento dos Atingidos por Barragens, o Movimento Quilombola e a Via Campesina são muito pouco conhecidas pelos brasileiros. A exceção é o MST. A pesquisa mostrou que 97% da população sabe de sua existência, acompanhando sua atuação pela televisão (90%), jornais (34%), rádio (24%), internet (18%) e revistas (8%), e que 65% dos moradores das grandes cidades concordam com seus objetivos. No entanto, 38% acham que a entidade teria abandonado suas metas iniciais e 45% relacionam sua forma de atuação à violência e a métodos ilegais. Em outras palavras, embora a causa do MST seja considerada "nobre", as formas de protesto adotadas pela entidade são duramente criticadas.

A pesquisa do Ibope também revelou que 60% dos entrevistados consideram que as chamadas " organizações camponesas" estão se aproximando da criminalidade e até do narcotráfico; que 61% entendem que os movimentos sociais criam dificuldades para o desenvolvimento econômico; e que 54% afirmam que elas prejudicam os segmentos mais desfavorecidos da sociedade. Somente 17% dizem que são os setores sociais mais ricos os prejudicados por essas entidades. Indagados como agiriam se estivessem no lugar dos proprietários de terras invadidas, 27% afirmaram que negociariam e até cederiam parte delas, mas 29% disseram que ingressariam com ações de reintegração de posse e 40% alegaram que tentariam o diálogo e depois recorreriam à Justiça.

Segundo o Ibope, 69% dos entrevistados acham que os movimentos sociais vêm ganhando força, mas que se constituem em simples instrumento de manipulação política; 56% dos entrevistados entendem que esses movimentos são "plantados de cima para baixo" por agremiações partidárias, igrejas e organizações não-governamentais (ONGs); e 40% afirmam que os maiores beneficiados pelos movimentos são seus próprios líderes. Só 37% dos entrevistados disseram que os movimentos sociais surgem da "revolta da população".

A pesquisa mapeou ainda o nível de confiança da população em instituições governamentais e em grupos sociais. Entre as primeiras, as corporações militares receberam a melhor avaliação (68%) dos entrevistados, seguidas pelos meios de comunicações (67%) e pela Igreja Católica, que empatou no terceiro lugar com os ambientalistas (64%). Depois vêm o presidente da República (48%), a Polícia Civil (45%), a Polícia Militar (43%), o Judiciário (42%) e os sindicatos (39%). O Legislativo (22%) e os partidos políticos (22%) ficaram nos últimos lugares do ranking. Entre os grupos sociais, destacaram-se os produtores de soja (59%) e os criadores de gado (55%), seguidos pelas ONGs (54%).

A reação dos movimentos sociais à pesquisa do Ibope foi ambígua - alguns disseram que os números são favoráveis às suas causas e outros acusaram a imprensa de tratá-los de modo enviesado. Na realidade, o estudo da Vale deixou claro que a sociedade rejeita os métodos usados por esses movimentos ditos sociais.

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