Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 09, 2008

E o Rio de Janeiro continua lindo

Voltei. E o Rio de Janeiro continua lindo

Abandonei vocês por algumas horas, não foi? Mas já estou de volta. O seminário foi bem bacana. Além do pessoal da Clínica Lacaniana, dividiu a mesa comigo Rodrigo Pimentel, ex-comandante do Bope e um dos roteiristas de Tropa de Elite. A mesa de que eu participei tinha como tema o binômio "violência e mídia". Aproveitei a escapada, confesso, para rever amigos queridos: Patrícia, Fernanda, Diogo, Cristina... E para passear um pouco. O Rio de Janeiro continua lindo. Certamente uma das mais belas cidades do mundo, parte dela tragada por desacertos históricos, que vão sendo reiterados, o que é uma lástima. Passei a tarde de sábado no Jardim Botânico, de onde se podia ver o Cristo, ali, de braços abertos. Na capa de VEJA Rio, ele aparece com as "mãos ao alto". Se formos fazer a conta dos mortos por 100 mil na cidade, não vai nessa leitura nenhum exagero. E, no entanto, a montanha ali do lado, a floresta, mais adiante um litoral deslumbrante. O que foi que se fez do que fizeram para nós!!!

Passei pela Rocinha, Vidigal, a vida borbulhante, o comércio, aquela arquitetura escalando a geografia. A maioria, certamente, composta de gente decente. Mas sitiada pelo narcotráfico — e, às vezes, pelas milícias bandidas. O crime organizado mesmo, vocês sabem, não está ali. Ou talvez morressem menos bandidos. Mas eles morrem às pencas. É que o exército de mão-de-obra é gigantesco, não é? A Polícia sobe o morro, mata 5, mata 10, mata mais. E no lugar aparecem 10, aparecem 20, aparece mais. Governos municipal e estadual — e, agora, até o federal — podem levar para lá infra-estrutura, escola, centro comunitário... Mas não leva estado, a lei e seu cumprimento. E a infra-estrutura, a escola e o centro comunitário viram bases de apoio do... narcotráfico!!! É o Programa de Aceleração da Cumplicidade entre o estado e a bandidagem.

A força militar — que, entendo, há de ser as Forças Armadas — tem de subir o morro e lá ficar, tomando o território que foi ocupado pelo narcotráfico e, eventualmente, pelas milícias. É o que os militares brasileiros estão fazendo no Haiti. Por que não aqui, ali, no Rio? E o estado tem de se organizar para prender mais. Aliás, isso vale para o Brasil inteiro. São Paulo, ao longo de 12 anos, reduziu em 70% os mortos por 100 mil. Pode chegar a 10, um número considerado, digamos, aceitável pela Organização Mundial da Saúde. Mas tem 40% dos presos do país, embora só 25% da população.


Por enquanto, está tudo errado no Rio. A Polícia tem de enfrentar a bandidagem, sim. Precisa subir o morro, se for o caso, para buscar o criminoso. Mas a sociedade tem de saber que só isso não adianta. Porque não basta subir e sair. Tem de subir e ficar — e aí já não é mais tarefa para a PM. De todo modo, o Rio de Janeiro continua lindo. E eu passei um fim de semana agradabilíssimo. Agradeço ao doutor Rodrigo Godoy o convite e a acolhida.

O Cristo está lá: tão perto do céu, tão longe de Deus.

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