Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 17, 2008

Dora Kramer - Velhos de guerra






O Estado de S. Paulo
17/6/2008

Na cabeça do Palácio do Planalto estava tudo certo: conquistado o PMDB por inteiro para a base de apoio do presidente Luiz Inácio da Silva, assegurada a distribuição de cargos nos ministérios, feita a divisão do poder no Congresso, com a alternância de petistas e pemedebistas nas presidências da Câmara e do Senado por quatro anos, a união das duas forças nas eleições municipais de 2008 seria apenas parte do roteiro escrito até 2010.

A bordo dessa poderosa parceria, o PT poderia, senão prescindir totalmente, pelo menos deixar aos aliados tradicionais, como o PC do B, o PSB e o PDT, papéis secundários.

Assim foi que há cerca de dois meses o chamado bloquinho quis saber de Marta Suplicy como seria a formação da aliança de sua candidatura à Prefeitura de São Paulo e ouviu que estava tudo combinado com o PMDB. Orestes Quércia indicaria o vice.
ão apenas não indicou, como aderiu à candidatura do prefeito Gilberto Kassab, deixando o PT sozinho agora a correr atrás do bloquinho. O mesmo ocorreu no Rio de Janeiro, onde a candidata do PC do B, Jandira Feghali, apesar de mais bem posicionada nas pesquisas, era tratada com pouco caso pelos petistas. Estavam confiantes no sucesso da aliança com o PMDB do governador Sérgio Cabral.

Rompida a coalizão, o PT tem um candidato de desempenho incipiente e Lula quer trocar o apoio do partido a Jandira pela desistência da candidatura do PC do B em São Paulo e a adesão do candidato Aldo Rebelo à campanha de Marta Suplicy.

O presidente Lula tem agora duas semanas para fazer o que não fez durante meses: correr atrás dos velhos companheiros de antigas guerras - PC do B, PSB e PDT - para tentar garantir alianças ao PT em algumas capitais e evitar que o partido termine as eleições com uma contabilidade negativa no balanço de perdas e ganhos.

A operação casada, que implicaria a retirada de candidaturas e a troca de apoios entre partidos e municípios com realidades e necessidades específicas, é tida como de difícil execução.

Combinar os interesses de quatro legendas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Manaus, onde os processos avançam há meses, não é algo que se faça do dia para a noite pelo simples poder de interferência ou vontade do presidente da República.

É preciso sempre antes combinar com os russos que, no caso, habitam diferentes nações, cujas conveniências Lula sozinho tentará compatibilizar, devolvendo a eles o tratamento de gala até então conferido com exclusividade ao PMDB.

Alguns se dispõem até a aceitar, mas cientes de que são procurados porque o projeto PMDB, tal como foi concebido, fracassou. O PT, de seu lado, recusou apoio a candidatos pemedebistas, acreditando na popularidade de Lula para sustentar candidaturas próprias. E o PMDB, percebendo que seu lugar era o de reboque, foi cuidar da vida.

O PT imaginou que seu plano estratégico teria no PMDB um aliado incondicional, esquecendo-se de que no PMDB a condição preliminar é o compartilhamento imediato de poder.

Um caso típico de incompatibilidade de gêneros.

No desvio

Diante de tantos e tão fartos argumentos oferecidos pelo quadro caótico no Rio Grande do Sul, o ministro da Justiça, Tarso Genro, escolheu um ardil obsoleto para responder à governadora Yeda Crusius, que se diz vítima de armações políticas da “República de Santa Maria”, vale dizer, o grupo de Tarso.

Segundo o ministro, o problema da governadora é “instabilidade emocional”. Tipo do machismo com aroma de naftalina, muito usado por espíritos mais retrógrados em embates com adversários do gênero feminino.

A ninguém, por exemplo, ocorreu levantar a hipótese de o ministro da Justiça ter sido acometido de súbito desequilíbrio quando correu para Mônaco na esperança de compartilhar com a Justiça do principado os efeitos da prisão de Salvatore Cacciola.

Mas, para Yeda Crusius, a arma escolhida por Tarso Genro não foi ruim. Emoções inconstantes não configuram crime nem justificam processos de impeachment. Ou Itamar Franco não teria terminado o mandato de Fernando Collor nem sido eleito, depois, governador de Minas Gerais.

Alternativa

Por ora, o DEM fecha com a candidatura José Serra. O mais provável é que continue “fechado” até 2010. Isso não impede o partido, porém, de se movimentar para pôr um nome a teste no primeiro turno: o da senadora Kátia Abreu.

Tanto pode correr “por fora” no primeiro turno, quanto pode vir a se tornar competitiva daqui até lá, ou mesmo se juntar à chapa do PSDB.

De alguma forma menos subalterna o partido se apresentará no processo da sucessão presidencial e o investimento no nome da senadora é evidente, embora cuidadoso o suficiente para não abrir fissuras antes do tempo no campo adversário ao presidente Lula.


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