Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 19, 2008

Complexidade - Kenneth Maxwell




Folha de S. Paulo
19/6/2008

UM DOS GIGANTES do jornalismo dos Estados Unidos, Tim Russert, morreu inesperadamente na semana passada, de um ataque cardíaco, aos 58 anos.
Russert era o chefe da sucursal da NBC News em Washington e, o que é mais importante, o apresentador do mais influente dos programas dominicais de entrevistas matutinas, o "Meet the Press", no qual ele interrogava os grandes e os poderosos com obstinada graça e meticulosa persistência.
Duvido bastante de que Tim Russert fosse muito conhecido no Brasil. Ele era um fenômeno muito americano; orgulhoso de suas raízes na combativa Buffalo, uma velha cidade industrial do Estado de Nova York; orgulhoso de suas origens católicas e proletárias; e equipado com os afinados instintos de um político democrata de rua.
Russert começou a carreira trabalhando para o lendário senador Daniel Patrick Moynihan, de Nova York, outro americano de ascendência irlandesa de inteligência formidável e pés sempre no chão. O senador Moynihan, sociólogo que lecionou em Harvard, era uma figura poderosa e excêntrica em Washington. Alto e mal-ajambrado, e evidentemente apreciador de uísque, ele aterrorizava os burocratas convocados a depor diante de seu comitê no Senado. Ainda que parecesse estar dormindo, ele se aprumava repentinamente, lançava um olhar atento na direção do depoente e exigia uma "complexização". A palavra não existe, claro: o que senador estava exigindo eram fatos em lugar de afirmações simplistas.
A morte inesperada de Tim Russert me fez pensar no senador Moynihan, um "intelectual público" que ganhou fama ao contestar as opiniões dominantes entre a esquerda liberal. Na metade dos anos 60, Moynihan argumentou que um dos grandes problemas dos negros norte-americanos era a ausência dos pais nas famílias negras. A esquerda o vilificou por "culpar a vítima". Mas, no domingo passado, Dia dos Pais nos Estados Unidos, em uma das maiores igrejas negras de Chicago, o senador Barack Obama disse a mesma coisa: "Precisamos que os pais compreendam que suas responsabilidades não se esgotam quando da concepção".
O senador Barack Obama sabe disso. Seu pai abandonou a família quando ele ainda era menino. Mas se trata de um tópico bastante sensível para que o trate de maneira direta, quando e como o fez; e leva a pensar que, caso Barack Obama se torne presidente dos Estados Unidos, ele será, como Moynihan, um líder que exigirá que reconheçamos não existir soluções simples para a complexidade do mundo.

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