Rumo a dois dígitos
MADRI - Calcula a revista "The Economist" (a da semana passada) que dois terços da população mundial provavelmente sofrerão inflação de dois dígitos ainda neste verão (está falando, claro, do hemisfério norte, prestes a inaugurar essa estação).
Do jeito que vai a coisa, os brasileiros estarão nesses dois terços, mas no inverno do hemisfério sul. Afinal, o índice de preços ao consumidor (o consumidor de baixa renda) já chegou a 8,24% nos 12 meses terminados em maio.
Em tese, mas somente em tese, trata-se de ameaça à popularidade do presidente Lula muito maior do que o mensalão, os "aloprados", o dossiê dos gastos de Fernando Henrique e Ruth Cardoso, a Varig e muitos etcs.
O teorema é simples: popularidade presidencial é razão direta da baixa inflação; a inflação da comida já não está mais tão baixa; os mais pobres gastam mais, muito mais, com alimentação do que os demais; e é entre os mais pobres que a popularidade de Lula é realmente elevada, além de crescente. Inflação é hoje um fenômeno mundial. Só aqui na Espanha houve, esta semana, protestos espetaculares dos taxistas e dos pescadores por causa do altíssimo preço do combustível (e foi antes do salto do petróleo na sexta-feira).
O diabo é que os governos parecem sentir-se impotentes nessa questão, como em tantas outras, de resto. Ou são de fato impotentes, inapetentes, incompetentes.
O que Lula pode fazer contra a alta dos preços da alimentação? Aumentar o valor do Bolsa Família, conforme o ministro Patrus Ananias já adiantou. OK, não resolve o problema dos preços, mas evita a corrosão do poder de compra dos mais pobres.
Mas Lula, quando sindicalista, já viu esse filme antes: corrigiam-se os salários, mas os preços eram corrigidos com mais vigor ainda e sempre venciam a corrida.