Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 17, 2008

Clóvis Rossi - A crise é esta, não aquela



Folha de S. Paulo
17/6/2008

Acho que os especialistas se enganaram de crise. Crise é o que ocorre agora, no mundo todo, e não aquela baita confusão que foi o caso das "subprime".
Crise é, por exemplo, o fato de que a inflação na zona do euro atingiu em maio o mais alto nível em 16 anos. Detalhe: desde que o euro foi lançado, ainda como moeda escritural, em 1999, não havia sido registrado nada maior que os 3,7% no ano que terminou em maio.
Agora não dá nem para pensar em descolamento, esse interessante, mas acadêmico, debate sobre a possibilidade de os países emergentes não serem afetados pela crise norte-americana das "subprime".
Não, a inflação é um fenômeno mundial sem precedentes recentes, com efeitos diretos e imediatos na vida real, em vez de, como a outra crise, afetar principalmente os apostadores dos mercados financeiro e imobiliário.
Na semana passada, os camionheiros pararam meia Espanha, com severos efeitos no abastecimento de gêneros essenciais. Esta semana começa com os camionheiros bloqueando estradas francesas.
Mesmo o Reino Unido, que era tratado até bem recentemente como o mais sadio dos países europeus (por seguir basicamente o modelo norte-americano, em vez do supostamente esclerosado sistema da Europa continental), conhece agora um momento de amargura sem paralelo recente. A CBI (Confederação das Indústrias Britânicas) acaba de avaliar que 2008 será o ano mais duro desde 1992, devido aos crescentes aumentos de preços de alimentação e petróleo.
Já há quem veja no horizonte o fantasma da estagflação nos Estados Unidos -paralisia econômica com preços disparados. No Brasil, o "Jornal Nacional", na semana passada, ressuscitou o fantasma das maquininhas de remarcar preços nos supermercados.
Antigamente, ainda havia quem pensasse ter a solução.

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