Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 14, 2008

A Banda, de Eran Kolirin

Não é um oásis

Um grupo de músicos egípcios se perde no deserto
israelense – e o espectador encontra algo excelente

Ao redor de uma mesa de jantar, alguns músicos egípcios da Banda da Polícia de Alexandria confraternizam brevemente com seus relutantes anfitriões israelenses, cantando todos juntos o blues Summertime. Mas qualquer temor de que A Banda (The Band’s Visit, Israel/França, 2007), que estréia nesta sexta-feira no país, vá derrapar para a idéia fácil da comunhão entre os povos por meio da arte ou da boa vontade logo se desfaz: terminada a canção, a dona da casa continua emburrada, o outro casal que mora ali retoma sua guerra silenciosa de rancores e os convidados voltam ao constrangimento. Encontrar um território comum não é fácil, argumenta assim o diretor israelense Eran Kolirin – não só por causa de disputas ancestrais, que seguem a toda a força, mas antes de tudo porque as chances de as pessoas serem parecidas entre si são as mesmas de não serem.

Nesse filme surpreendente tanto na força quanto na delicadeza, o general Tawfiq e seus sete músicos desembarcam em Israel, vestidos em uniformes azul-bebê, para tocar na abertura de um centro de cultura árabe. Confundem o nome da cidade, vão parar no lugar errado – um conjunto habitacional no meio do deserto, onde não há "cultura nenhuma, nem árabe nem israelense", segundo lhes informa a dona de um restaurante – e não têm como sair dali até a manhã seguinte. Armados apenas com seus instrumentos e uma polidez irretocável, preparam-se para ser hóspedes indesejáveis. Em alguns momentos, a perspectiva se confirma; em outros, resulta em algo completamente diverso.

Dos planos magnificamente compostos ao elenco estupendo, em que se destacam o general (Sasson Gabai), seu triste segundo-em-comando (Khalifa Natour), a dona do restaurante (Ronit Elkabetz) e o jovem Haled (Saleh Bakri), um sedutor convicto porém desastrado, A Banda nunca confirma as expectativas que cria, no melhor sentido possível. Romances anunciados não acontecem, entendimentos que pareciam certos são tudo menos isso. Trata-se de um filme minucioso, atento aos detalhes, sobre uma das mais tortuosas contingências humanas – a da convivência forçada. Kolirin não oferece proposta nem solução. Oferece mais do que isso: instantes de sintonia sublime, e de rejeição.

Arquivo do blog