Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 15, 2008

Augusto Nunes-SETE DIAS

Kiribati vai desaparecer no mar


O minúsculo arquipélago esquecido no coração do Pacífico Sul sempre dependeu do que seus habitantes jamais poderiam controlar. Há 4000 anos, desde que ali se alojou a primeira tribo vinda da Ásia, os 33 atóis e ilhas dependem do mar. Incorporada ao Império Britânico em 1916, a colônia no Pacífico começaria a depender também dos senhores europeus. Os humores do mar continuaram a deliberar sobre o presente. Os humores do império passaram a controlar o futuro. E assim seria até 1979, quando veio a independência.

Trinta anos depois de obtida a autonomia política, a República de Kiribati depende mais do que nunca dos humores do mar e, sobretudo, dos favores estrangeiros. No começo do mês, o presidente Anote Tong, em visita à Nova Zelândia, aproveitou o Dia Internacional do Meio Ambiente para comunicar ao mundo que Kiribati foi condenada a morrer por afogamento antes que o século termine.

Desde o dia da independência, Tong não parou de pedir ajuda ao resto do mundo. Alguns foram atendidos: sem o socorro financeiro oferecido pelos Estados Unidos e pela Nova Zelândia, a república teria sucumbido à fome e à sede.

Outros pedidos foram ignorados. Nos últimos 20 anos, Tong emitiu incontáveis sinais de alerta dando conta dos perturbadores augúrios da natureza. As inundações de verão se tornaram cada vez mais inclementes – agora cobrem por semanas ilhas inteiras. O nível do mar e a temperatura sobem a cada ano. Os períodos de estiagem ficaram mais longos e hoje são penosamente extensos para aquelas terras baixas castigadas pela escassez de água doce. O drama de Kiribati, repetiu Tong infrutiferamente, era o prólogo de uma tragédia universal.

As advertências nunca mereceram mais que meia dúzia de linhas em jornais à caça de assuntos. E jamais conseguiram aninhar-se na agenda de preocupações de governantes poderosos. Havia questões mais urgentes que as duvidosas lamentações reiteradas pelo presidente de uma irrelevância geopolítica. Com pouco mais de 100 mil habitantes, que vivem da pesca, do coco e de uma raquítica agricultura de subsistência, Kiribati não tem moeda própria (usa o dólar australiano), substituiu a língua regional pelo inglês, não tem produtos a exportar nem dinheiro para importações.

A maioria dos 12 funcionários do Ministério das Relações Exteriores serve na embaixada nas Ilhas Fiji. É a única de um país sem representação sequer na ONU. Em Bairiki, a capital, a comunidade diplomática estrangeira cabe em três endereços: a embaixada de Taiwan e os altos comissariados da Austrália e da Nova Zelândia. Por falta de turistas a hospedar e alimentar, faltam hotéis e restaurantes.

É possível que mais viajantes comecem agora a aparecer por lá: é sempre interessante visitar um país que vai naufragar. Se o mais recente apelo de Anote Tong for atendido, os forasteiros que chegam cruzarão no mar com os nativos que partem. "Não queríamos acreditar nisso, mas a hora chegou", disse o presidente. "A evacuação tem de começar agora mas não conseguiremos fazer isso sem que o mundo nos ajude". Milhares de habitantes já deixaram o país. Outros tantos sonham com lugares altos.

"No momento, os únicos disponíveis são os coqueiros", lastimou Tong. O drama no Pacífico ensina que nada é eterno, e que a hora da salvação não pode esperar. Choremos por Kiribati. E ouçamos os lamentos da Amazônia.

O padroeiro da mulher gaúcha

O senador Pedro Simon não consegue ver uma gaúcha em apuros sem sacar da garganta uma declaração de solidariedade, abjurar o que acabou de dizer e trocar o sim pelo não ou vice-versa. Para liberar adjutórios que socorressem a governadora Yeda Crusius, por exemplo, Simon apaixonou-se pela CPMF. Na quarta-feira, decidiu absolver Dilma Rousseff de todas as acusações presentes, passadas e futuras. "O alvo é a candidata", viajou. Um descanso nos pampas sempre ajuda. Que tal Yeda oferecer-lhe o comando da Secretaria dos Direitos da Mulher?

Os compadres sabem mais que Freud

"Perguntem ao Freud", sugeriu Lula aos interessados em saber o que pensa das denúncias feitas por Denise Abreu, ex-diretora da Anac. Se for o Freud que conhece – Freud Godoy, o ex-segurança e ex-assessor especial que saiu de perto do presidente depois de se meter com o bando de aloprados – pode ser uma boa idéia. Se for o outro, um austríaco que Lula mal sabe quem é, melhor insistir em buscar respostas com o presidente e com o bacharel dos ares Roberto Teixeira, o Primeiro Compadre. Os dois conversam sobre política, sobre negócios, sobre questões familiares – tudo. Decerto conversaram bastante sobre o assassinato da Varig.

Os compadres poderiam explicar, por exemplo, por que o governo ignorou a lei que fixa em 20% a participação de estrangeiros em empresas aéreas. Ou por que a Varig foi vendida à Gol e não à TAM, que se dispunha a pagar US$ 418 milhões a mais. Ou o que foi fazer na Anac Valeska Teixeira, a Primeira Afilhada, justamente no dia da reunião que decidiu o destino da Varig. (Comprar passagens? Ou lembrar aos diretores da agência que o Pai e o Padrinho estavam de olho neles?). Se não for querer demais, o Brasil que presta gostaria de saber o que andou fazendo o advogado Teixeira para embolsar US$ 5 milhões.

Monumento à cretinice

Depois de examinar a papapelada que fundamentou a condenação do jornalista Antônio Pimenta Neves a 18 anos de prisão, por ter liqüidado com um tiro na cabeça a ex-namorada Sandra Gomide, a subprocuradora-geral da República Delza Rocha pediu a anulação do julgamento. Não, ela não achou o castigo brando demais. É o contrário: cismou que, induzidos pelo juiz, os jurados exageraram na dose.

Se a maluquice funcionar, Pimenta – sempre livre como um táxi no ponto – morrerá longe do catre. Delza também: cretinice não dá cadeia.

Fugiu de Cuba e matou a mentira

Em julho passado, depois da decolagem do avião cedido por Hugo Chávez para devolver a Havana os pugilistas Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, o ministro Tarso Genro ofendeu-se com a suspeita de que, para acariciar Fidel, o Brasil havia deportado dois atletas que tentaram trocar a Vila Pan-Americana do Rio pela liberdade. "Eles pediram para voltar", jurou Tarso. Na quinta-feira, Lara enfim conseguiu chegar à Alemanha, dias depois de fugir de Cuba. Está muito feliz. E à disposição dos interessados em conferir a historinha contada por Tarso.

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