Jornal do Brasil |
4/6/2008 |
"Colocamos os bandidos na defensiva e estamos ganhando a guerra", garantiu Anthony Garotinho depois de elevar a voz de bom locutor até o tom exigido pela fala derradeira. Durante a conversa de 90 minutos com dois repórteres do Jornal do Brasil, o ex-governador do Rio de Janeiro (que transformara em sucessora a própria mulher, Rosinha Matheus) e ex-candidato à Presidência da República (que se recuperara da derrota vitaminado por 15 milhões de votos) tentara provar, na primavera de 2003, que tinha valido a pena assumir, em abril, o comando da Secretaria de Segurança Pública. A vitória dos mocinhos ainda não se consumara, admitiu enquanto se erguia da cadeira. Mas faltava pouco, emendou já de pé. A anunciação do triunfo foi a senha para o regresso ao palco de Álvaro Lins, chefe da Polícia Civil. O coadjuvante abriu a porta sem bater, varou com passadas enérgicas a muralha de assessores e estacionou a um metro do patrão. Isso estava no script, avisara a primeira aparição, ocorrida 10 minutos depois de iniciada a performance do protagonista. Também de repente, Lins irrompera no gabinete, pedira licença para interromper a conversa, trocara meia dúzia de cochichos com Garotinho e saíra com a expressão de quem tem urgências urgentíssimas a liqüidar. Como nos filmes policiais classe B, devaneou um dos jornalistas, aqueles parceiros se completavam assimetricamente: o gorducho e o esbelto, o risonho e o carrancudo, o expansivo e o introvertido. O detetive bonzinho e o partner durão. Resgatou-o da estratosfera a voz do entrevistado. "O doutor Álvaro está monitorando uma diligência no morro", confidenciara Garotinho. "Vamos pegar uns vagabundos agora à tarde". Se o roteiro fosse coerente, o monitor voltaria no fim da conversa para contar o desfecho da aventura, certo? Pois lá estava ele em cena. "Tudo certinho?", sorriu o secretário. "Morreu um", contraiu-se o rosto do chefe de polícia. "Nosso ou bandido?", deu a deixa Garotinho. E então, a bordo de uma palavra só, veio a resposta dramaticamente fora do script: "Investigador", balbuciou o coadjuvante. Foi assim que, armado de cinco vogais e sete consoantes, Lins matou um dos mocinhos no fim do filme, implodiu o longo discurso do secretário e exumou a interrogação que Garotinho julgara enterrada: o que o fez aceitar um emprego tão temido por caçadores de votos? Até a semana passada, Garotinho (que deixou o cargo em setembro de 2004) e Lins (que em 2006 trocou a chefia da Polícia Civil pela Assembléia Legislativa) eram só mais dois entre os incontáveis integrantes da procissão de autoridades amplamente derrotadas na guerra do Rio. Na sexta-feira, foram acusados pela Polícia Federal, com o aval do Ministério Público, de integrarem também uma quadrilha que extorquia delegados e acobertava delinqüentes. Pelo que foi revelado até agora, Garotinho ainda pode invocar a presunção de inocência – e merece, portanto, o benefício da dúvida. Não é o caso de Lins. O colosso de provas e evidências atesta que o mais poderoso homem da lei no faroeste carioca usou o disfarce de xerife para combater em favor da bandidagem. Deixou em paz os domínios dos traficantes de drogas e armas para dedicar-se à própria quadrilha – um pequeno exército de policiais convertidos em criminosos. Preso pela Polícia Federal, Lins foi libertado pelos colegas da Assembléia. Nenhuma surpresa: dos 70 deputados estaduais, 33 foram denunciados por estelionato, improbidade, formação de quadrilha ou homicídio. No mesmo dia em que foi confrontado com o obsceno espetáculo do compadrio, o Brasil decente soube do caso dos três profissionais do jornal O Dia, seqüestrados e submetidos a torturas por policiais alistados numa das milícias que governam mais de 100 favelas. Soube, também, dos vínculos que atam Lins a esses grupos paramilitares que ajudaram a transformar em zonas de exclusão os morros do Rio. Nesse Brasil amputado do mapa, os bandidos mandam. Ali jornalista já não entra. Nem o governador. Nem o presidente da República. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, junho 05, 2008
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