Descoberta a gruta onde, de acordo com o mito,
Rômulo e Remo foram amamentados pela loba
Fábio Portela
AFP |
A cúpula decorada com mosaicos de mármore e conchas: o local foi palco de um ritual pagão até o século V |
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Se você não aprendeu isso na escola, aqui vai um resumo: o mito da fundação de Roma tem como protagonistas os gêmeos Rômulo e Remo. Abandonados em um cesto nas águas do Rio Tibre, eles foram salvos por uma loba, que os amamentou e os viu crescer. Adulto, Rômulo matou Remo e, em seguida, fundou Roma oito séculos antes de Cristo. A lenda de Rômulo e Remo voltou ao noticiário na semana passada, com o anúncio de que arqueólogos encontraram a gruta na qual os irmãos foram aleitados pela loba, de acordo com a crença dos antigos romanos. Ela foi localizada a 16 metros de profundidade, debaixo das ruínas do palácio do imperador Otávio Augusto, numa das encostas do Palatino, uma das sete colinas de Roma. Autores clássicos, como os gregos Dionísio de Halicarnasso e Plutarco, relatam que os primeiros romanos a transformaram num templo. A gruta tornou-se palco de um ritual chamado Lupercália. Todo fevereiro, animais eram sacrificados em homenagem a Luperco – uma divindade associada ao Pã grego – e dois jovens do patriciado eram ungidos com sangue e leite de cabra. Acreditava-se que esse ritual garantia colheita farta e ajudava as mulheres a arranjar marido e a ter filhos. A tradição manteve-se até o século V, quando foi banida pela Igreja Católica.
Os textos de Dionísio e Plutarco, que apontavam estar a gruta situada próximo ao Palatino, levaram o arqueólogo italiano Rodolfo Lanciani a deduzir, no começo do século XX, que ela deveria estar sob as ruínas do palácio construído por Otávio Augusto, o primeiro imperador romano. Mas foi apenas há dois anos que os arqueólogos passaram a explorar o local com sondas subterrâneas. Em julho, um dos aparelhos detectou um espaço vazio, a 16 metros de profundidade. Era uma câmara circular, com 7 metros de altura e 6,5 de diâmetro, coberta por uma cúpula. Uma filmadora controlada a distância revelou os deslumbrantes mosaicos que cobrem o teto e as paredes, feitos de mármore e conchas. A gruta será desobstruída e estudada detidamente antes de ser aberta à visitação dentro de cinco anos. "Nossos estudos indicam que essa é mesmo a gruta reverenciada pelos antigos romanos como o local onde vivia a loba que salvou Rômulo e Remo", disse a VEJA o superintendente arqueológico de Roma, Angelo Bottini. Os subterrâneos de Roma continuam a ser fonte de grandes – e belas – surpresas.
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