Os tucanos tentam reagir
Manifesto e troca de comando no partido
sinalizam retomada do discurso oposicionista.
Mas nos bastidores...
Juliana Linhares
Os tucanos lançaram um manifesto, realizaram um congresso e deram posse ao novo comando da legenda, que agora tem na presidência o senador pernambucano Sérgio Guerra. São esforços para demonstrar capacidade de reação. Desde a derrota na campanha presidencial, em 2006, o PSDB é um partido à procura do eixo. Apesar de estarem à frente de estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, os tucanos saíram da eleição com várias outras baixas. Hoje têm apenas a quarta maior bancada na Câmara (atrás de PMDB, PT e DEM) e a terceira no Senado. Também não conseguiram (nem tentaram, na verdade) se tornar a principal voz da oposição, espaço ocupado pelos democratas. Diante desse cenário, a primeira iniciativa foi mudar o discurso. No manifesto, um documento de vinte páginas, o PSDB aponta os desvios do governo Lula no campo ético e enumera realizações tucanas como o Plano Real e o programa de privatizações na gestão Fernando Henrique Cardoso. No papel, pelo menos, é uma guinada em relação à posição titubeante exibida em episódios como as investigações do escândalo do mensalão (veja quadro).
Nessa mudança de rota, a voz mais firme tem sido a do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso. Na quinta-feira passada, na abertura do congresso do partido, em Brasília, ele cobrou do governo uma manifestação mais clara contra as articulações em marcha para permitir que Lula dispute um terceiro mandato. "Eu espero que o presidente diga com clareza: sou contra. Esse risco está no ar", disse Fernando Henrique. Mas o ex-presidente, apesar da influência e do seu peso moral, tem suas falas abafadas dentro do próprio partido. Isso ocorre porque a antecipação da disputa pela candidatura do PSDB à Presidência incentiva manobras espúrias. A verdade é que, longe dos holofotes e bem ao contrário do que diz o manifesto tucano, alguns integrantes da agremiação andam articulando um acordo com o PT. A idéia é que, em lugar de dar a Lula a chance de concorrer em 2010 a mais quatro anos no Planalto, a reeleição seja extinta e o mandato do presidente petista seja prorrogado até o fim de 2011. Já há no Congresso projetos que prevêem o aumento dos mandatos de presidente, governadores, prefeitos e parlamentares de quatro para cinco anos. Por esse pacto – espúrio, casuísta e inconstitucional, é bom que se diga –, a medida poderia ser ampliada para os atuais ocupantes de cargos, o que incluiria Lula. A proposta atrai porque, para o PT, seria uma maneira de esticar a permanência de Lula no poder sem enfrentar o desgaste de brigar por um terceiro mandato. Já o PSDB resolveria um problema interno. O governador de São Paulo, José Serra, e o de Minas Gerais, Aécio Neves, lutam silen–ciosamente pela vaga de candidato da legenda em 2010. Ambos acreditam que o PT não terá um nome forte para apresentar, o que tornaria mais fácil a disputa. Com a possibilidade de reeleição, quem fosse preterido precisaria esperar até 2018 por uma nova chance, já que o vencedor de 2010 não abriria mão, é lógico, de tentar permanecer na Presidência. Pelo novo modelo, a espera seria reduzida forçosamente para 2015. Segundo apurou VEJA, essa seria a forma de Aécio abrir mão de vez da candidatura em 2010, em favor de Serra.
Sérgio Lima/Folha Imagem |
Fernando Henrique, em discurso no congresso tucano: a voz mais firme |
A aproximação entre tucanos e petistas começou no segundo semestre de 2006. Então prefeito de São Paulo, Serra telefonou ao deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Na ocasião presidente da Câmara, Aldo foi convidado para um almoço. No encontro, Serra pediu a Aldo que convencesse o ex-deputado petista Sigmaringa Seixas, à época presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Casa, a colocar em tramitação uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria do deputado Jutahy Junior (PSDB-BA). A PEC propunha o fim da reeleição e o aumento do tempo dos mandatos – as medidas, porém, só valeriam a partir de 2011. Aldo chegou a fazer gestões junto a Sigmaringa, mas a proposta acabou arquivada. Em abril deste ano, Jutahy conseguiu reapresentá-la. Ou seja, está na boca do forno para ser aprovada na CCJ – e com possíveis, e oportunas, modificações em plenário. O parlamentar tucano, homem de confiança de Serra, jura que não há acordo: "Isso é inviável para os atuais mandatos". Mas as articulações continuam. Aloysio Nunes Ferreira, secretário-chefe da Casa Civil do governo Serra, e o ex-ministro petista José Dirceu têm se encontrado para tratar do assunto.
O manifesto do PSDB tenta recolocar o partido no trilho da oposição e reafirmar conquistas tucanas como o Plano Real Corrupção Privatizações Plano Real |
Com reportagem de Karin Hueck