Sua principal alavanca é a desvalorização do dólar. A tabela mostra o que está acontecendo com o dólar em relação a seis moedas.
Este foi o principal assunto da reunião do Grupo dos 20, realizada no fim da semana passada, em Kleinmond, a 100 quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul. Uma declaração do novo presidente do Fundo Monetário Internacional, o francês Dominique Strauss-Khan, feita lá não foi inteiramente compreendida. Ele disse que certos países do mundo estão carregando um peso excessivo nesse acerto de contas. E ele mencionou os 13 do bloco do euro, o Canadá e o Brasil.
O ajuste está sendo necessário porque a economia americana está desregulada. É um carro de Fórmula 1 sem acerto para a pista: sai de frente, gasta demais freios e pneus, consome mais combustível e fica para trás.
O conjunto inteiro está comprometido. Há um déficit orçamentário desde 2002, que puxa a dívida para cima; o rombo comercial, que bombeia quase US$ 3 bilhões por dia nos exaustos mercados de câmbio; o consumo excessivo, que pesa 70% do PIB; e a falta de poupança, hoje próxima de zero por cento do PIB. Assim, a crise do crédito hipotecário podre (subprime) é mais sintoma do que causa da encrenca.
Como os Estados Unidos são parte substancial da economia mundial (cerca de 23%), o problema não é apenas local e o ajuste tem de ser global.
Um dos mecanismos naturais pelos quais esse ajuste se produz é o câmbio. A desvalorização do dólar ajuda tanto a empurrar as exportações como a conter importações americanas. E importações mais caras em dólares favorecem a redução do consumo que, por sua vez, contribui para baixar as exportações.
A desvalorização do dólar seria um mecanismo mais eficiente se caísse por igual, como chuva fina. O problema é que algumas economias estão conseguindo evitar o tranco. São as que mantêm suas próprias moedas atreladas ao dólar, como é o caso da China e da maioria dos fornecedores de petróleo reunidos na Opep. Os preços dessas moedas caem na mesma proporção em que caem os do dólar e a gangorra fica parada. Na prática, esses países não participam do mesmo ajuste.
Pergunta: se é assim, por que o Brasil também não atrela o real ao dólar? O problema é que isso exigiria compras cavalares de dólares pelo Banco Central. Se, por exemplo, o objetivo fosse trazer o câmbio a R$ 2,20 por dólar e o Banco Central partisse para essa empreitada, o resto do mundo apostaria contra. Despejaria dólares aqui, o Banco Central seria obrigado a seguir comprando e logo chegaria o dia em que a inflação dispararia ou que o Banco Central teria de voltar ao câmbio flutuante. Contra fluxos assim, não há controle de recursos que funcione, como a história recente mostrou exaustivamente.
A China e a maioria dos países da Opep não têm esse problema porque têm enormes recursos orçamentários à prova de pressões desse tipo.
Isso mostra que país com folga nas contas públicas tem mais flexibilidade de manobra. E o Brasil não está com essa bola toda. O governo continua gastando demais. Por isso paga mais pelo ajuste.