Ana Araujo |
Militares brasileiros: atentos ao populismo dos vizinhos |
Desde o fim da ditadura militar, em 1985, nunca o papel das Forças Armadas esteve no centro da atenção do debate político como agora – e isso não é uma má notícia. Muitas das principais discussões nacionais tocam de alguma forma o estamento militar. O caos aéreo é um exemplo. O controle do tráfego de aviões é a única atividade com impacto cotidiano na população ainda sob o comando direto dos homens de farda. Mas muita gente gostaria de vê-los interferindo em outras dimensões da vida civil. Alguns governadores, como Sérgio Cabral, do Rio Janeiro, reivindicam a participação de tropas do Exército no combate ao crime organizado, cujo poder de fogo supera o das polícias estaduais. Quando se discute a obsessão de Hugo Chávez por armar a Venezuela com um arsenal moderno e mais apropriado para ações ofensivas, surge a questão do preparo de nossas Forças Armadas para conter um eventual gesto tresloucado do imperialista bolivariano.
Para entender como essas e outras questões repercutem na caserna e como os próprios civis as encaram, VEJA encomendou uma pesquisa de opinião, realizada nas últimas semanas em quase todos os estados da federação, com um universo de mais de 2 000 pessoas. Além disso, o repórter Otávio Cabral saiu a campo para ouvir os militares de alta patente, da ativa e da reserva, das três armas, Exército, Marinha e Aeronáutica. Constatou que a tropa está insatisfeita com os soldos e atônita diante da obsolescência do armamento disponível, com fuzis de trinta anos de idade e carros de combate americanos remanescentes da Guerra da Coréia, cujo cessar-fogo foi assinado em 1953. A reportagem revela a aceitação inconteste do poder civil pelos militares, conceito tão arraigado agora que nem mesmo a insatisfação com as condições de vida e trabalho pode abalar. Suas grandes preocupações se concentram na defesa da Amazônia, na incapacidade de vigiar o mar territorial brasileiro ou fazer frente ao populismo dos países vizinhos caso eles se mostrem agressivos. O editor especial André Petry coordenou a pesquisa, a apuração e escreveu a reportagem especial que começa na página 130.