Entrevista:O Estado inteligente

sábado, novembro 24, 2007

Thiago Pereira, nosso recordista mundial de natação

O Phelps brasileiro

Recorde mundial faz de Thiago Pereira a
grande promessa da natação para Pequim


Marcelo Bortoloti

Michael Sohn/AP
Thiago festeja o recorde: ele superou o melhor do mundo


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A maioria dos atletas da natação define seu estilo preferido aos 15 ou 16 anos de idade. Gustavo Borges foi um grande campeão no nado livre. Fernando Scherer bateu recordes no estilo livre e também no borboleta. Com Thiago Pereira, foi diferente. Aos 21 anos, ele brilha nos nados livre, borboleta, peito e costas. Thiago é um fenômeno. Não é tão alto, nem tem os braços tão longos como Borges ou Scherer. Seu diferencial está nas pernas. Elas são ligeiramente curvadas para trás. Seus pés se espicham como os de uma bailarina equilibrando-se na ponta dos dedos. Essa característica produz uma batida na água com maior amplitude. O resultado é um conjunto de membros inferiores com potência e maior capacidade de flexão. Com isso, o nadador ganha uma propulsão extraordinária, poupando a carga dos braços e se cansando menos. A compleição física privilegiada ajudou Thiago a dominar melhor a técnica de diversos estilos de natação e fez dele um atleta nascido para medley, ou "quatro estilos", a prova mais nobre das piscinas. Fez dele um campeão e um recordista mundial.

O sucesso de Thiago trouxe consigo a inevitável e desafiadora comparação com o americano Michael Phelps, recordista mundial de nado medley nas categorias 200 e 400 metros. Phelps é considerado o melhor nadador de todos os tempos. Há uma semana, o brasileiro superou uma de suas marcas pela primeira vez. Bateu o recorde mundial nos 200 metros medley em piscina curta, na Copa do Mundo, em Berlim. Bateu também o recorde da competição nos 400 metros. Thiago se acha em condições de melhorar essa marca na etapa de Belo Horizonte da Copa do Mundo de piscina curta. Nas provas disputadas em piscinas de dimensões não olímpicas – de 25 metros –, o nadador bate mais vezes os pés na parede durante as viradas. Isso lhe dá maior impulsão. Por isso, para brilhar nas Olimpíadas de Pequim, em que as provas são disputadas em piscinas de 50 metros, Thiago tem ainda de aprimorar outros fundamentos.

Desde criança, ele tem o dom para o esporte. Estreou em 1999, com apenas 13 anos, e teve seu primeiro grande resultado em 2003, nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, quando conquistou uma medalha de prata e outra de bronze. Nas Olimpíadas de Atenas, em 2004, Thiago conseguiu o quinto lugar na categoria 200 metros medley. Até 2005, no entanto, faltavam-lhe técnica e maturidade. Naquele ano, jogando futebol com amigos, deslocou a rótula e por pouco não teve de abandonar a carreira. Foi ali que sua história virou. "Aquilo me ajudou a acordar", lembra Thiago.

A temporada de 2007 foi a melhor de sua carreira, com a conquista de seis medalhas de ouro no Pan do Rio. Hoje, ainda com o rosto de garoto, brinco na orelha e gosto por programas noturnos, Thiago tem consciência de seu valor como atleta. Sua única torcedora no passado, a mãe, hoje tem sempre abundante companhia. Além disso, Thiago agora tem patrocinadores e eles cobram resultados. "Ele era muito instintivo. Mas, na natação, chega um momento em que é preciso usar a razão. Thiago está nesse caminho", diz Ricardo de Moura, coordenador técnico da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Com treinamento duro, sua evolução foi formidável ao longo dos anos. Entre 2001 e 2007, ele conseguiu melhorar seu desempenho em dezesseis segundos nos 200 metros medley (veja o quadro). É tempo suficiente para singrar meia piscina olímpica.

Atualmente, o atleta nada cinco horas por dia, de segunda a sábado. Para um nadador de alto nível, o treinamento não apenas ajuda a manter a forma física, mas também serve para melhorar a qualidade, freqüência e amplitude dos movimentos com o objetivo de nadar mais rápido com menor dispêndio de energia. Hoje ele consegue atravessar uma piscina de 25 metros com cinco braçadas no estilo borboleta, e sua capacidade de recuperação entre uma volta e outra é comparável à de Michael Phelps. "Natação é matemática. Com amplitude e freqüência você consegue melhorar a velocidade", diz seu técnico, Fernando Vanzella. A diferença de Thiago para o americano? Nos 200 metros medley, os dois nadam em velocidades parecidas até a quarta volta, quando Phelps se distancia. O brasileiro precisa dar mais braçadas para vencer a mesma distância percorrida pelo americano. A amplitude da remada de Phelps é superior. A oito meses das Olimpíadas de Pequim, a meta de Thiago é diminuir essa diferença e aprender a usar os braços com a mesma eficiência das pernas. Quem o conhece não duvida da sua capacidade de superação.




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