Weiller Diniz
Pequena família, grandes negócios
O deputado Maurício Rands, do PT pernambucano, foi um abnegado fuzileiro da tropa-de-choque de Lula na CPI do Mensalão em defesa de seus companheiros de partido. Agora, na CPI das ONGs, poderá virar alvo junto com seu irmão, Alexandre Rands, que opera numa super ONG em Pernambuco, a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal de Pernambuco. A Fade diz fazer acompanhamento de cursos profissionalizantes, como a Unitrabalho, do churrasqueiro de Lula, Jorge Lorenzetti.
Só que a Fade pode ser considerada a elite da tropa. Entre 2003 e 2007 a entidade recebeu a bolada de R$ 39,1 milhões de recursos públicos. Coincidência ou não, o maior volume de repasses foi em ano eleitoral. Em 2006 a Fade faturou R$ 14,9 milhões contra R$ 9,8 milhões em 2005, R$ 6, 8 milhões em 2007, R$ 2,3 milhões em 2003 e R$ 1,1 milhão em 2004. O curioso é que os patrocinadores da Fade são os ministérios sob a influência de políticos pernambucanos aliados do governo, como o Ministério da Saúde do ex-ministro vampiro Humberto Costa (PT) e o Ministério da Ciência e Tecnologia, feudo de Eduardo Campos (PSB-PE), que deixou a trincheira em 2006 para disputar o governo de Pernambuco. Campos emplacou na hospitaleira cadeira Sérgio Rezende e foi em 2006 a melhor pontaria da Fade no ministério: R$ 7,2 milhões.
Alexandre Rands é economista e ostenta orgulhosamente em seu currículo que mantém um "vinculo institucional" com a Fade e que seu "enquadramento funcional é de consultor" e que faz "pesquisas" desde 1994 até os dias atuais. Dotado de múltiplos talentos, Alexandre Rands também preside a empresa Datamétrica de telemarketing e consultoria econômica que anda abocanhando robustos contratos com o governo federal. Só para administrar o call center do INSS em Recife, a Datamétrica beliscou R$ 20 milhões do contribuinte.
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Na eleição de 2006, Maurício Rands queimou, modestamente, R$ 962 mil para se reeleger deputado federal. Ele próprio tirou do bolso a bagatela de R$ 376 mil, segundo a prestação de contas disponível no Tribunal Superior Eleitoral. O polivalente irmão - que leciona, é consultor, economista e sabe-se lá mais o quê - entrou com mais R$ 25 mil, através da empresa Datamétrica, que também faz pesquisas de opinião pública para os principais políticos pernambucanos. Como pessoa física, Alexandre Rands foi mais comedido e só colaborou com R$ 600 para ajudar a renovar a imunidade parlamentar do irmão.
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O próprio presidente Lula compareceu à festança de inauguração da Central de Tele-atendimento da Previdência Social no dia 16 de junho do ano passado, no Bairro do Recife, onde está o tal call center operado pela Datamétrica de Alexandre Rands. Os integrantes da CPI das ONGs querem saber se Alexandre Rands é mesmo o dono da milionária empresa ou um testa-de-ferro do irmão Maurício. O patrimônio de Maurício Rands declarado à Justiça eleitoral é de causar inveja aos companheiros proletários: R$ 1,9 milhão.