Mais realista é reconhecer que foi a paga da praga rogada pelos próprios tucanos contra si há quase dois anos, quando lhes faltou examinar com clareza os fatos e imprimir firmeza aos atos adequados à ocasião.
Titubearam, disfarçaram, optaram por flexibilizar valores, adaptando os princípios éticos às suas conveniências partidárias, e acabaram por deixar passar a grande chance que teriam de se diferenciar do adversário, então sentado na berlinda.
Ali poderiam ter repudiado as práticas em suas hostes, isolado o acontecido em Minas do restante do partido e tocado em frente o dever de oposição.
Mas não, preferiram defender o senador Azeredo e sua campanha (cujo esquema envolveu muitos partidos nas eleições proporcionais, inclusive o PT) com os mesmíssimos argumentos utilizados pela cúpula petista e governista para defender os seus, "amarelaram" diante da confissão de Duda Mendonça de que havia recebido dinheiro de forma ilegal para fazer a campanha presidencial de Luiz Inácio da Silva em 2002, refugaram depois no julgamento dos sanguessugas - tudo indica em troca da serenidade do PT em relação a Azeredo -, esqueceram o caso do dossiê tucano na campanha de 2006 e ficaram ombro a ombro com os protagonistas do escândalo do mensalão.
Agora, ao se concretizar a denúncia de que os métodos aplicados pelo PT tiveram origem em Minas, se houve alguma influência da sina não foi no sentido do deboche, mas da seriedade.
O destino falou sério com o PSDB. Se puderem olhar com crueza o quadro, os tucanos perceberão que a oportunidade da discussão sobre o futuro do partido se encaixa na medida da apresentação da denúncia do procurador-geral da República.
Afinal, o nó que ata as ações do PSDB é o mesmo que o impediu de consolidar uma atitude oposicionista e agir com nitidez na ocasião: falta de comando, ausência de rumo, carência de lideranças com densidade política de alcance nacional, abundância de interesses individuais/regionais dispersos e divergentes, insuficiência de músculos, excesso de vacilação, autoconfiança no chão.
Não adianta, portanto, choramingar, dizendo que as situações são diferentes e que, se Azeredo como beneficiário do esquema foi denunciado, o presidente Lula também deveria ter sido.
Para começo de conversa, isso não é argumento. Pelo menos não é que se preze, pois equivale ao "todo mundo faz", "eu não sabia de nada" a que Lula recorreu para se defender e - com sucesso no resultado, mas a poder de concessões à leniência com o crime no processo - sair eleitoralmente ileso da história.
E para encerrar a conversa, o essencial nos dois casos não é o destino dado ao dinheiro. O fundamental é sua natureza, pública, e os métodos para obtê-lo, desvio mediante contratos fraudulentos nas administrações estadual e federal. Isso só tem um nome: corrupção.
Eduardo Azeredo não foi reeleito. O PT também não teria montado no aparelho de Estado a quadrilha que o procurador Antonio Fernando de Souza o acusa de ter montado se Lula tivesse perdido a eleição.
Não se trata de um detalhe, é claro. Há distância abissal entre um caso e outro. Mas o PSDB perdeu a chance de traçá-la com risca de giz e dar sua dimensão exata lá atrás, quando não soube, não quis ou não pôde marcar a diferença.
Agora paga o preço e já está grandinho o suficiente para perceber a razão.
Bico justo
Passou batido para a platéia, mas não para o governador Aécio Neves. Quando Fernando Henrique disse, em seu discurso no congresso tucano, que a alteração feita na sistemática de exame das medidas provisórias, em 2001, foi "para muito pior", Aécio nem levantou os olhos, mas registrou com um riso amarelo o desagrado.
Além de presidente da Câmara na época, o mineiro patrocinou, negociou, aprovou e até hoje defende a mudança que, segundo FH, teve como conseqüência nefasta a constante paralisação da pauta do Congresso.
Calendas
Depois dos sindicalistas, agora são os partidos aliados ao governo que querem "rediscutir" o prazo de 30 de novembro estipulado pelo presidente Lula para o envio da proposta de reforma tributária ao Legislativo.
Da última vez que "a base" pediu a suspensão de uma reforma foi em 2004. Para apoiar a pretensão do então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, de se reeleger no ano seguinte, os partidos pediram a retirada de pauta da reforma política. Até hoje.