Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, setembro 17, 2007

A nova classe social no poder: agora em números

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Por Fernando Barros de Mello, na Folha desta segunda. Volto em seguida:

Os cargos de confiança mais altos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva são ocupados por sindicalizados e filiados ao PT, de acordo com dados da pesquisa "Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite do poder", coordenada por Maria Celina D'Araújo, do CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV. "Você tem ainda uma superposição: parte dos petistas é também sindicalizada. É uma malha associativa muito forte", diz a pesquisadora. A amostra da pesquisa levou em conta os cargos DAS 5, DAS 6 (Direção e Assessoramento Superior) e NE (Natureza Especial), que são os mais altos no serviço público. "A população brasileira tem em torno de 14% de sindicalizados. Na nossa amostra, a gente tem 45%. É muito diferente da realidade brasileira", diz. "Nós pegamos os níveis 5 e 6, que são cargos de direção. Acho que, se olhar mais para baixo, a tendência é até ter mais militantes e sindicalizados. A nossa amostra é uma elite que requer especialização técnica", complementa.

Segundo a pesquisa, cerca de 25% tinham filiação partidária: 19,90% eram filiados ao PT, e 5%, a outros partidos. O estudo mostra que a maior parte dos filiados vem do serviço público estadual e municipal. Informações do próprio PT dão conta de que, ao todo, são 5.000 filiados que ocupam cargos comissionados no governo Lula."Os filiados são, em sua maior parte, "outsiders" da esfera pública", diz o texto da pesquisa, segundo o qual os indicadores de "associativismo" também impressionam. "Um total de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social, 31,8% declaram ter pertencido a conselhos gestores e 23,8%, a experiência de gestão local. Apenas 5% pertenceram a associação patronais." Outro ponto que chamou a atenção foi o fato de a área econômica ter o maior número de servidores com experiência anterior (27%). Na área da saúde, o número fica em 14,55%, na social, em 19,12%, e na de educação, em 13,93%. "O que a gente observa é que a área econômica é a mais profissionalizada".
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Eis aí. Vocês sabem que chamo a nova classe social que chegou ao poder com Lula de “burguesia do capital alheio”. A reportagem publicada na Folha não poderia ser mais eloqüente. Este é o poder real do petismo. E notem que se está falando de cargos comissionados, os de confiança. Aposto que, nos escalões inferiores, à medida que se rebaixam as exigências técnica para o exercício da função, os sindicalizados estão em ainda maior número. A base material do novo poder no Brasil é a Central Única dos Trabalhadores, de onde saiu boa parte dos quadros que estão no comando. Por meio da central, o partido controla também os fundos de pensão e as estatais.

Lembram-se da entrevista de Expedito Velloso, aquele que era diretor do Banco do Brasil e que integrou o grupo dos aloprados impunes do dossiê? Qual é a sua origem? CUT. É o caso ainda de Osvaldo Bargas, Jorge Lorenzetti e Ricardo Berzoini, presidente do PT — todos eles diretamente ligados à tramóia. Se o partido perder a eleição em 2010, os titulares dos cargos de confiança serão substituídos. Mas isso não quer dizer grande coisa. A infiltração sindical-petista nos quadros do estado se dá nos Três Poderes e no Ministério Público. Chama a atenção, ainda, o maior número de “companheiros” em áreas como saúde e educação — não por acaso, as que têm desempenho mais sofrível, a despeito da propaganda oficial. A economia, vê-se, está mais protegida da sanha.

A pesquisa expõe a real natureza do governo Lula. Imaginem o comando da Saúde com apenas 14,55% das pessoas com a chamada “experiência anterior” na área. Estão lá, então, por quê? Por, literalmente, “companheirismo”. E a gente ainda estranha que não se consiga fazer o remédio chegar aos indiozinhos. A constatação de fundo e que interessa é esta: o estado está sendo ocupado pelo sindicalismo petista. O esforço, já escrevi aqui, é para tornar a alternância de poder no país uma coisa irrelevante. Ainda que um outro partido possa vir a ser eleito, o PT não pretende abrir mão do domínio da máquina do estado.

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