Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 20, 2007

Tudo na mesma



EDITORIAL
Folha de S. Paulo
20/3/2007

Com seis meses de crise aérea, governo Lula se atrapalha até em serviços básicos; esse desrespeito crônico exige uma CPI

JÁ SE vão quase seis meses desde o acidente com o Boeing da Gol que matou 154 pessoas. A balbúrdia deste fim de semana, a prolongar-se ao menos até hoje, reitera que a crise aérea da qual o desastre foi catalisador veio para ficar.
A incompetência das autoridades federais voltou a manifestar-se. Espanta que nem sequer um sistema ágil de prestação de contas e assistência a passageiros esteja em operação.
Quem se atrapalha nas tarefas básicas tampouco se mostra capaz de atacar as causas da crise. Eventos estranhos continuam a prejudicar o fluxo de aviões. Agora o pretexto para o engarrafamento foi uma pane no software de Brasília. Em outros "apagões", haviam sido a falha no rádio da capital federal e a queda de energia em Curitiba.
O governo de novo alimenta suspeitas de bastidor contra controladores de vôo. Seria cômico se não fosse caótico. Responsáveis pelo tráfego aéreo fizeram uma greve branca, ou "operação-padrão", no início da crise. Em vez de conduzir o caso dentro da hierarquia militar, o governo Lula abriu um diálogo sindical com a categoria e nutriu suas expectativas de tirar o serviço da alçada da Aeronáutica.
De resto, a comissão criada pelo governo para analisar o problema tomou há pouco sua mais importante decisão: adiou o prazo para apresentar as conclusões. É lamentável que a gestão Lula não tenha produzido nem mesmo um diagnóstico consensual acerca das causas estruturais que levaram à enervante situação de hoje -a crise acarreta prejuízos de monta à economia nacional e solapa a credibilidade de todo o sistema aeroportuário.
Está claro que o Brasil não se preparou para o forte aumento na procura por transporte aéreo ocorrido nos últimos anos.
Congonhas, cujo movimento cresceu acima da média do país, foi alvo de reformas apenas cosméticas, repletas de indícios de fraude. Por temer a abertura dessa caixa-preta, e outras do gênero, o governo batalha a fim de barrar a CPI da crise aérea na Câmara.
Mas uma apuração parlamentar autônoma do colapso nos aeroportos é urgente -do que dão prova as filas e o desrespeito ao passageiro, agora rotina nos terminais brasileiros.

Arquivo do blog