Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 21, 2007

Ponte aérea Ruy Castro


Artigo -
Folha de S. Paulo
21/3/2007

Ano que vem, espero completar 30 anos de ponte aérea. Digo espero porque pretendo estar firme no balcão do aeroporto com meu e-ticket para pegar um cartão de embarque e tomar o avião. Só não sei se, dentro de um ano, ainda teremos balcão, aeroporto ou avião.
Em 1978, eu próprio estava com 30 anos, morara na Europa e já tinha ido a Nova York, a trabalho ou à toa, sei lá quantas vezes. Mas não conhecia São Paulo -era possível isso. Em meados daquele ano, um convite de uma revista para uma reunião me levou à Paulicéia pela primeira vez. E, no fim do ano, outra revista me ofereceu sua editoria de cultura, o que significava pegar a mulher, as filhas, a mobília e me instalar. Fui.
Minha idéia era passar três anos em São Paulo. Por vários motivos, nem todos profissionais, passei 17. Mas a natureza do trabalho e a minha própria fizeram com que eu nunca ficasse longe do Rio. À média de 1,5 viagem por mês, eram 18 viagens por ano -ou 306 em 17 anos. Com os vôos de ida e volta, multiplique por dois e teremos 612, o número de vezes em que subi ou desci no Santos Dumont ou em Congonhas nesse período. Por baixo.
E quase sempre no Electra, com sua saleta perto da cauda, preferida pelos habitués da ponte. Éramos amigos das aeromoças, dos pilotos e do pessoal de terra. A Varig, a Cruzeiro, a Vasp e a Transbrasil faziam 66 vôos por dia, um vôo a cada 15 minutos. Perdia-se um e tomava-se outro. Poucas vezes fiquei empacado num dos aeroportos. Os quais eram modestos, mas eficientes e acolhedores.
De novo no Rio desde 1995, agora faço o inverso: vou com freqüência a São Paulo. Ultimamente, menos do que deveria. Não vejo muita graça no risco de um apagão com dez aviões, entre eles o meu, sobrevoando a cidade na fila para pousar.

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