Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 20, 2007

O RUMO CERTO por Denis Rosenfield

Depois de um início com tropeços, em que a governadora parecia seguir caminhos já percorridos, que, na verdade, apenas levaram à situação atual, as novas sinalizações políticas indicam uma mudança de atitude. Apresentando claramente à sociedade gaúcha os graves problemas das finanças públicas, Yeda Crusius está tornando possível que se conheça melhor os impasses vividos. Não se trata de uma briga partidária, mas de responsabilidade estatal. A partir do momento em que a verdade é apresentada, fica muito mais difícil para os diferentes interesses corporativos existentes fazerem pleitos irrealistas, que não podem ser atendidos. Não é justo, por exemplo, que os salários dos membros do Executivo estejam praticamente congelados, enquanto os do Legislativo e Judiciário não sofrem as mesmas restrições. O bolo é um só. Se a fatia de um é maior, a do outro será necessariamente menor. A realidade impõe restrições e cabe à governadora fazer face a elas, mostrando a todos a inadequação entre uma sociedade próspera e um Estado falido que não consegue enfrentar os seus encargos. Sobrecarregar ainda mais a sociedade com impostos tenderia apenas a perpetuar a atual situação, com a repetição dos mesmos erros.

O princípio de realidade está, agora, imperando. O dever de casa começa na própria casa, para que, depois, se apresente à sociedade os ganhos auferidos. O discurso da responsabilidade fiscal, acompanhado de medidas efetivas, está pautando a conduta do atual governo, e em consonância com o programa de campanha. Pode-se, neste sentido, dizer que há coerência entre o que foi anunciado e o que está sendo feito, algo raro no mundo político atual. Se os gaúchos apostaram na mudança, é para que algo novo ocorresse e para que as fórmulas passadas não fossem meramente repetidas. Sob esta ótica, as medidas de controle do fluxo de caixa da Fazenda, adequando mensalmente a despesa à receita, é uma grande inovação. Inovação por ter sido trazida ao serviço público, pois há muito vigora nas empresas e na contabilidade familiar de cada cidadão. Não haveria porque o Estado ter uma situação privilegiada, sobretudo porque depende de recursos alheios, dos que controlam os seus respectivos gastos. A nova governadora coloca-se, assim, no mesmo diapasão de toda a sociedade. Deverá ainda melhor mostrar que a sua responsabilidade é a expressão da responsabilidade de todos.

Dizer não a novas demandas que aumentem o déficit do Estado torna-se uma medida coerente com o que está sendo realizado. A oposição de determinados deputados em relação a medidas tomadas – e a tomar – situa-se no baixo nível da luta política, na medida em que se situa na posição daqueles que são irresponsáveis no manejo da coisa pública. De nada adianta sempre culpar o outro dos problemas que não são enfrentados em sua seara própria, a do governo enquanto tal, a da gestão responsável. Não deixa de causar surpresa que deputados de oposição, que criticam as medidas sugeridas pela governadora, são os mesmos que as apóiam em nível municipal ou federal, exibindo, apenas, uma total falta de coerência. A política só se escreverá com P maiúsculo se a coisa pública se situar acima das coisas particulares. Infelizmente, o país vive um momento de p minúsculo.

A notícia de que ontem a governadora Yeda Crusius e o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, em nome do PGPQ, assinaram um termo de cooperação técnica visando a melhorar a qualidade da gestão pública, dá um novo sinal de que o discurso de campanha entra em uma nova etapa de concretização. A ênfase na gestão, com a diminuição das despesas e o aumento das receitas, sem mexer – para cima – nos impostos, é daquelas medidas que se voltam para o futuro, embora não sejam sempre compreendidas no presente imediato. São, no entanto, vitais para que a sociedade gaúcha possa se reencontrar com o seu Estado e os cidadãos com as suas instituições.

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