Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 10, 2007

O Nosso Guia é o Artilheiro do PAN

por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Dominando as primeiras páginas de dois dos maiores jornais do país, O Globo e Folha de São Paulo, no dia 8 de março de 2007, entre manchetes e chamadas com as mais importantes notícias do dia, tais como: “Divergências precedem visita de Bush; Mulher é baleada em tentativa de roubo em Moema; Anatel autoriza Telefônica a ter canal pago de TV; Preso por crime hediondo ficará mais tempo na cadeia; Menina morta no colo do padrasto; Milícias têm cem investigados; Seqüestrado libanês na tríplice fronteira; BC reduz taxa de juros só 0,25 ponto, para 12.75%”, estavam duas fotos que revelam, por inteiro, o Brasil e seu Presidente.

Em O Globo, sob o título ‘Lula In Rio’, e com uma reportagem chamada ‘Sexo, Samba e Futebol’, vemos a foto do Presidente da República de calças arregaçadas, descalço e sem meias, correndo para bater um pênalti a ser defendido pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro. Na FSP, o título da foto é ‘Correndo Para o Abraço’, e lá está ele, o Presidente, de costas, braços abertos e corpo voltado para trás, em êxtase total, se dirigindo aos abraços que receberá pelos pênaltis que acaba de converter.

No gramado, todos endossando um belo e radiante sorriso, os áulicos. Devem ser uns 50 assessores e aspones, ali, sob o sol escaldante do verão carioca, de rachar até sorriso alvar. Mas eles estão firmes, assistindo a esse instante máximo da nossa República: o Chefe do Executivo Federal e o Chefe do Executivo Estadual, dando uma de peladeiros, em nosso mais famoso estádio.

Lula veio ao Rio de Janeiro para lançar, na Cidade do Samba, na Gamboa, o plano para conter a disseminação da AIDS entre as mulheres. Aproveitou para tomar emprestado o mote do seu mais recente amigo, o ‘goleiro’ Cabral, e falar da hipocrisia, na sociedade brasileira, que impede que se trate esse tema.

Será possível? Mais uma vez, somos os culpados. Só que distribuir preservativos, implementar uma política de planejamento familiar, colocar a Educação Sexual como matéria obrigatória nas escolas, abrir clínicas especializadas na saúde da família, é obrigação dos governos. Se as diversas Igrejas concordam ou não, é problema de seus fiéis. Não é, e não pode ser, problema do Governo Federal. Hipocrisia é apelar para isso como desculpa para não fazer nada.

Na Cidade do Samba, Lula fez declarações antológicas: “é preciso haver evolução da massa encefálica do cérebro” para entender a convivência paritária entre homem e mulher. “Sexo é uma coisa que todo mundo gosta e é uma necessidade orgânica, da espécie humana e da espécie animal. Como não temos controle disso, o que precisamos é educar”.

Tem mais: “Preservativo tem que ser doado e ensinado como usar. Sexo tem que ser feito e ensinado como fazer”.

Depois dessas palavras magníficas, só mesmo encerrando o dia com a apoteótica tarde no Maracanã. Converter dois pênaltis no gramado onde Pelé comemorou mil gols, onde o Brasil perdeu a Copa de 50, onde Didi, Garrincha e Nilton Santos jogaram com a camisa canarinho, onde o Flamengo é rei, não é para qualquer um. O presidente está de parabéns.

Implicância? É, pode ser. Não acho que estejamos, no momento, com o coração leve e solto para essas presepadas, em pleno dia de semana, aliás. E parem para pensar: se a moda pega? No Mineirão, Lula de novo com as calças arregaçadas, meias enfiadas nos bolsos, e o Aecinho no gol? Ia ser bonito...

Mas bonito mesmo, da gente cantar “Que bonito é...”, a plenos pulmões, seria ver o palmeirense José Serra defendendo, no Pacaembu, os pênaltis do corinthiano Lula. Se me avisarem com antecedência, sou capaz de tomar um ônibus e ir a São Paulo assistir.

Ah! em tempo: o presidente, artilheiro do PAN segundo o governador do Rio, aproveitou para assinar medida provisória liberando mais 100 milhões de reais para a conclusão das obras para os Jogos Pan-Americanos... Quanto será que custaram à Alemanha as Olimpíadas de Berlim, em 1936?

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