A ordem é cortar Os primeiros sessenta dias do governador Arruda no DF são um furacão de eficiência. Se continuar assim, ele fará uma revolução Ricardo Brito
Cristiano Mariz | O governador Arruda: corte de despesas e demissão de funcionários sem concurso | As últimas eleições produziram uma safra de governadores que estão chamando atenção pela maneira pragmática com a qual estão enfrentando os graves problemas financeiros de seu estado. No Espírito Santo, o governador Paulo Hartung, do PMDB, se reelegeu depois de conseguir com sucesso equilibrar as contas do estado. No Rio Grande do Sul, a governadora Yeda Crusius, do PSDB, anunciou um rigoroso ajuste fiscal como forma de escapar da insolvência. Receitas de boa governança também já foram aplicadas recentemente em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Bons exemplos estão surgindo de onde menos se esperava. No Distrito Federal, o governador José Roberto Arruda, do PFL, surpreendeu em seus dois primeiros meses de governo. Logo depois de assumir, Arruda anunciou um amplo corte de gastos, com a demissão de milhares de funcionários não concursados, a extinção de cargos de confiança e a venda de imóveis funcionais. E cumpriu o anunciado. Também estabeleceu como meta economizar até o fim do ano um terço do orçamento de custeio, o que significa gastar 1 bilhão de reais a menos do que estava previsto. Não é possível saber se isso vai ou não acontecer, mas a simples disposição de colocar as contas em ordem já é indício de que existe uma nova mentalidade na praça. Se fizer o que promete, promoverá uma revolução liberal no Distrito Federal. José Roberto Arruda está praticando o que ele chama de modo liberal de governar. Em 2001, quando era senador e líder do governo Fernando Henrique, ele se envolveu no escândalo do painel de votações do Senado e se viu obrigado a renunciar. Perdoado pelos eleitores, agora quer deixar no passado o estigma de político desastrado e construir a imagem de administrador competente. Arruda tem imprimido ao governo o ritmo gerencial de uma empresa privada. Ele trocou o palácio por um galpão, onde os secretários despacham num ambiente único, bem próximos, separados apenas por baias. O modelo, adotado por grandes empresas e bancos, dá eficiência e rapidez às decisões. Antes, para discutir algum projeto com o governador, os secretários precisavam agendar uma reunião. Se o assunto necessitasse a presença de outro secretário, nova reunião era agendada para depois. Uma decisão simples demorava dias, às vezes meses para ser tomada. Hoje as coisas se resolvem em minutos. "Os desgastes políticos com os ajustes são enormes, mas tive de enfrentar o desafio e fazê-los", explica José Roberto Arrruda. Como é praxe na política brasileira, todo governador que assume costuma herdar dívidas e também as conseqüências dos desmandos administrativos de seu antecessor. Brasília não é diferente. Apesar de a cidade gozar de alguns privilégios financeiros por ser a capital do país, o descaso a colocou no mesmo patamar de outros lugares da federação. Uma auditoria revelou que o ex-governador e atual senador Joaquim Roriz deixou uma conta de 700 milhões de reais para seu sucessor quitar. Como não havia previsão orçamentária, Arruda suspendeu o pagamento e mandou investigar a origem da dívida. "Se nós pagássemos os 700 milhões de reais em dívidas, não haveria investimentos neste ano", diz o secretário de Fazenda, Luiz Tacca Júnior. O governo interrompeu até abril todos os investimentos previstos para, ao final da auditoria nas contas, saber qual o exato tamanho no rombo. Além disso, o governador anunciou algumas medidas de contenção para acabar com abusos administrativos de seu antecessor, o que já gerou uma economia de 75 milhões de reais por mês. Antigos aliados, Roriz e Arruda andam com as relações estremecidas. Bom para os contribuintes. | |