Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 21, 2007

Míriam Leitão - Hora de concentrar



PANORAMA ECONÔMICO
O Globo
21/3/2007

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse que a tendência mundial da petroquímica é estar concentrada e ligada a uma empresa petroleira. Disse que as empresas independentes do Brasil acabarão sendo compradas e prevê uma reestruturação do setor nos próximos dez anos. "Em todos os países há uma empresa dominante", diz.

- A integração do setor petroquímico com a empresa petroleira é vital para a expansão. Não há petroquímica isolada e independente - disse.

Segundo ele, é um equívoco achar que a Petrobras não deva crescer na petroquímica. O negócio provocou uma reação de José Ricardo Roriz Coelho, presidente do Sindicato da Indústria de Resinas Sintéticas de São Paulo. Segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", ele disse que todas as outras empresas querem a mesma parceria que a Braskem tem com a Petrobras para ter acesso à matéria-prima a preços competitivos.

- Não somos o que a Suzano pensa que somos: apenas fornecedores de matéria-prima - reagiu Gabrielli.

Segundo Gabrielli, o plano da Petrobras deliberado é de crescer em outras etapas da produção da petroquímica e não ficando apenas no fornecimento de nafta:

- Queremos ter uma posição relevante nas centrais. Queremos discutir a estratégia do setor. Haverá mais concentração. Vamos ampliar as sinergias no Nordeste. O movimento no Sul vai destravar os investimentos no pólo petroquímico mais arrumado.

Gabrielli diz que a Petrobras tem vários papéis na petroquímica.

- De um lado somos fornecedores de matéria-prima e nisso enfrentamos a concorrência da nafta importada, que abastece um terço do mercado; de outro somos minoritários nas centrais que consomem essa matéria-prima, mas queremos ser mais relevantes - disse.

Isso mostra mais uma confusão: afinal, se ele enfrenta a competição da importação de nafta, quanto mais for decisiva sua participação nas centrais, mais essa importação será inibida.

José Carlos Grubisich, da Braskem, atesta que eles mesmos importam nafta de Argélia, Líbia e Venezuela, mesmo tendo a Petrobras como um dos acionistas. Grubisich diz que a Petrobras tem apenas 10% do capital da empresa, os outros 40% são da Odebrecht.

- E 50% do nosso capital estão em mercado aqui e no exterior.

É fato, só que no acordo de acionistas só estão a Petrobras e a Odebrecht. Elas é que mandam; ainda que pareça grande a participação dos minoritários, eles estão muito pulverizados.

É fato também que a tendência do mercado petroquímico é de concentração, mas nem todos os grandes grupos petroquímicos estão ligados a grandes petroleiras. A Dow, por exemplo, não está. Mas o problema é que o Brasil tem uma distorção básica do mercado, que é o gigantismo da Petrobras em todos os segmentos do setor. Gabrielli nega que no Brasil seja diferente do mundo.

- É assim no mundo inteiro: a BP é dominante na Inglaterra, a Total é dominante na França, a Eni é dominante na Itália, a Repsol é dominante na Espanha. Só nos Estados Unidos é que é diferente, mas é o único mercado assim pulverizado. A competição se dá dentro do mercado internacional.

O problema é quem importa. No Brasil, há importação de nafta, mas não de outros derivados. A Petrobras é a solitária fornecedora de tudo.

- Quem importa é quem quer assumir o risco de importar, as outras empresas podem assumir o risco também - disse o presidente da Petrobras.

A Petrobras tem um poder tão grande de formação de preços no setor no Brasil que, com pequenas providências burocráticas ou de oscilação de preços, pode produzir enormes prejuízos para quem ouse enfrentá-la.

O jornal "Valor" contou ontem uma pequena história que ilustra isso: um pool de distribuidoras formado por Shell, Texaco, Esso e Ipiranga, no fim de fevereiro, decidiu importar 34 milhões de litros de diesel. Quando o produto chegou, a Petrobras baixou o preço do produto e isso levou o pool a ter prejuízo com a operação.

Os analistas de mercado confirmam que o setor petroquímico vai se concentrar mais mesmo. A Suzano é grande, mas em um produto apenas: polipropileno. Se formar um novo grupo será com a Unipar e a Petrobras. O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, quando for implantado, será a Petrobras com o grupo Ultra. Será uma refinaria petroquímica, outra tecnologia e outro processo. O Comperj vai processar o petróleo pesado de Marlin, produzindo diretamente os produtos petroquímicos, numa tecnologia que só a China tem e em tamanho menor. Por onde se olhe o que se vê é a Petrobras crescendo em todos os pontos estratégicos do mercado.

Na produção hoje de matéria-prima para a indústria petroquímica, a Braskem passa a controlar 60% da produção de eteno. Grubisich diz que isso não é problema, pela natureza do mercado, onde não há venda livre e sim contratos de longo prazo. A Copesul vai fechar o capital e será 64% da Braskem e 36% da Petrobras.

No petróleo e na petroquímica, sozinha ou associada, a Petrobras é cada vez mais incontrastável no mercado brasileiro.

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