Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 24, 2007

MILLÔR


García Márquez mais uma vez foi visitar Fidel.
Com carinho tece-lhe elogios, minuciosos e excessivos.
É isso aí – intelectuais não resistem a um ditador.
Raramente tomam o poder. Mas gostam de
ser valet de chambre – criados de
quarto.
Adoram um boquete ideológico.

TUDO ÔQUEI. OU NÃO?

Sempre que surgem novidades tecnológicas o nível Cultural baixa. Há repetição de coisas passadas como se fossem invenções extraordinárias, velhos lixos culturais como se fossem criações últimas da humanidade. A Internet, mais especificamente, o Google (a cultura prêt–porter), é especialista nisso. No E-meu recebo diariamente esse paradoxo – novidades velhas e afirmações definitivas de coisas não provadas, até mesmo improváveis.

Exemplo: ORIGEM DO OK.

INFORMAÇÃO PADRÃO:

Durante a Guerra de Secessão (que eu achava que era um erro de revisão), quando as tropas voltavam para o quartel sem nenhuma baixa, escrevia-se numa placa "0 Killed" (zero mortos). Daí surgiu a expressão O.K. para indicar que tudo estava bem.

COMENTÁRIO DESTE COMENTARISTA:

Etimologia interessante, mas, como tantas, anedótica. Há uma atribuída ao General Grant – responsável pela vitória de Lincoln na Guerra de Secessão, de quem outros generais foram reclamar ao Presidente, pois estava sempre bêbado. Lincoln teria respondido: "Se é assim vou mandar distribuir tonéis de bebidas para todos os outros generais e ver se alcançam os mesmos resultados que ele".

Grant, depois Presidente, segundo a lenda subletrado, pensava que all correct se escrevia Oll Korrect e, portanto, dava aos documentos o seu aval com um OK. Anedota.

O OK já existia. Como já havia, também, uma forma matuta de pronúncia: oll ou orl, korrect. É possível que Grant soubesse disso e estivesse gozando a cara dos seus assessores, a exemplo do Dr. Roberto Marinho, que gostava de bancar de distraído ou até gagá, pra confundir a suficiência, até insolência irônica, dos auxiliares mais jovens (no fim, quem não era?).

Woodrow Wilson usava Okeh em seu papéis: "Okeh. W.W.". Indagado por que não usava Ôkei, Wilson – professor universitário – respondia: "Porque está errado. Procure no dicionário". Procuravam e achavam: "Okeh. Palavra do Choctaw* significando 'É isso'''.

Mas deixo a última palavra com Eric Partridge (neozelandês morto em 1979, o maior etimologista que conheço – que passou os 86 anos de sua vida mergulhado no mistério e na mágica das palavras. Tem pelo menos uma obra-prima, ORIGINS, e um livro, pra nós, curioso: From Sanscrit to Brazil).

"OK. Sua origem não é, como já se acreditou, a palavra Okeh, variação de hoke, do Choctaw*, significando 'Sim, é', mas, mais provavelmente, deriva-se das bandeiras do OK. Clube, da campanha presidencial de 1840, apoiando Martin van Buren (presidente dos U.S. 1837-41), apelidado Old Kinderhook, por ter nascido na cidade desse nome".

Poucos acrogramas (epa!) tiveram mais sucesso do que OK. Depois da campanha de 1840 ele rapidamente perdeu o sentido inicial e passou a ser usado como verbo, advérbio, substantivo e interjeição. Na Inglaterra o OK americano pegou logo, pois, por coincidência, vendia-se um molho muito popular chamado Mason, O. K.

Hoje o OK tem circulação universal e penetrou até na linguagem mais formal. No mundo ocidental sua popularidade só é ameaçada pelo Ciao, italiano.

Ciao, pra quem não sabe, é corruptela da palavra schiavo (escravo). Bem, mas isso é coisa pra outra conversa.

*Língua indígena do Missouri.

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