Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 03, 2007

MILLÔR

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Por trás de todo grande homem tem uma grande mulher. E elas já estão chegando a 1,80 m.

Prêmios, a quanto obrigam!

Você pode achar vaidade, mas, no comportamento em geral, antecedi Groucho Marx quando declara: "Não freqüento clube que me aceita como sócio" (No original: "Please, accept my resignation. I don't want to belong to any club that will accept me as a member").

Desde muito cedo, na minha profissão, eu não acreditava em prêmio. Bastava alguém me elogiar, ainda mais se era sincero, que eu duvidava de sua capacidade intelectual, quando não de sua sanidade mental.

A GLÓRIA.
Desta glorificação o autor não conseguiu escapar. Quando foi feito comendador, no Diário Oficial desta República, pelo saudoso presidente baiano Itamar Franco. Aí está minha visão eletrônica dessa honra insuperável.

Acho muito engraçado as pessoas comentando, escrevendo, ou falando na tevê: "Autor muito premiado". O que é um prêmio? De que vale um prêmio? E quem não é muito premiado nos dias de hoje? Pouquíssimos vivem fora desse besteirol neurótico da instant glory. Coisa ainda mais pobre é: "Faz grande sucesso lá fora", no exterior, em Katimanduba, no mundo. Tudo béstéira, como dizia meu velho e sábio amigo italiano, Errico Rubino.

A única coisa importante, acho, é fazer sucesso na esquina. Embora deva confessar que receberia com grande satisfação, esse, sim, importante, o Prêmio Nobel. Claro, imediatamente recusaria a honra. Mas iria correndo pegar o milhão de dólares.

Isso me vem porque encontro um livro meu em que está documentada, sem que na época eu percebesse nenhuma intenção especial, a minha posição.

Pois é, nessa época remota, ganhei um prêmio! O livro que encontro agora, minha peça UM ELEFANTE NO CAOS, foi editado pela Editora do Editor (de minha propriedade e que só editou esse livro), cujo nome já era uma gozação na Editora do Autor (de meus amigos Rubem Braga e Fernando Sabino), nome evidentemente demagógico: toda editora é do editor.

Transcrevo, da orelha do livro, minha recepção ao PRÊMIO:

"Esta peça foi premiada como a melhor do ano (1960) pela Associação Brasileira de Críticos Teatrais, prêmio e Associação esses que, como tantos semelhantes, não significavam coisa alguma. O autor foi considerado também o Melhor do Ano e recebeu, com essa láurea extraordinária, a quantia de Cr$ 50.000,00 (cinqüenta mil cruzeiros) das mãos do governador do Estado da Guanabara, numa cerimônia inesquecível, por anacrônica e humilhante.

Cinqüenta mil cruzeiros, esclarecemos, era mais ou menos, na época, o equivalente ao aluguel mensal de um apartamento de sala e dois quartos, na zona sul. Fica o fato registrado para que o leitor do futuro possa aquilatar o valor que as mais altas autoridades do país atribuíam, em 1960, aos seus Sófocles, Ésquilos e Aristófanes".

Mas, também achando falsas, aqui como em qualquer parte do mundo, citações elogiosas, arrancadas a fórceps de críticas muitas vezes negativas – sempre leio as citações ao contrário. Ou melhor, como seriam no original. Sei que, quando a contracapa do livro diz que o autor é considerado inigualável pelo New York Times, a frase original da crítica era: "continua um inigualável idiota".

Por isso, apesar de estar sendo injusto com alguns dos críticos, na contracapa de UM ELEFANTE NO CAOS, extraí, de críticas às vezes elogiosas, só o que era negativo:

"UM ELEFANTE NO CAOS simplesmente não é teatro."
Van Jafa. Correio da Manhã.

"O título, além de pouco popular e pouco atrativo, tem essa palavra pouco atrativa e pouco simpática, que é Caos."
Henrique Oscar. Diário de Notícias.

"O enredo nada tem de interessante."
Brício de Abreu. Diário da Noite.

"Millôr Fernandes não resiste à tentação de querer interpretar o Hamlet... caindo no óbvio, no formal, mesmo no piegas."
Bárbara Heliodora. Jornal do Brasil.

"Se esta peça de Millôr tivesse sido apresentada há cinco anos, seria, provavelmente, mais importante do que nos parece hoje, embora suas falhas fossem as mesmas."
Cláudio Bueno Rocha. Tribuna de Imprensa.

"Há em UM ELEFANTE NO CAOS uma surpresa e de qualidade bem menos animadora: o autor é reacionário."
Miroel Silveira. Correio Paulistano.

"Millôr é um individualista pré-marxista, preso a um sistema ético-familiar."
Paulo Francis. Diário Carioca.

PS.: A peça UM ELEFANTE NO CAOS foi dirigida por meu amigo João Bethencourt, scomparso há dois meses. De todos os espetáculos – originais, adaptações e traduções – de que participei, esse foi o que teve a mais brilhante direção.

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