Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 22, 2007

Mais eficiente do que se pensava?



Artigo - Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
22/3/2007

Novos números do PIB pedem revisões nas estimativas de produtividade e de potencial de crescimento da economia

O BRASIL ficou mais rico e, em termos relativos, diminuiu o peso dos impostos. Trata-se dos novos números do PIB, divulgados ontem pelo IBGE. Claro, não passou a chover emprego, fábrica ou dinheiro. Mudou só o método de cálculo da atividade econômica do IBGE, agora muito mais preciso. Como de hábito, o governo dedicou-se ao descaramento ignorante de faturar os números. A oposição deu-se à safadeza de suspeitar do IBGE com burrice oportunista, pois a economia sob Lula agora parece ter andado algo melhor que nos anos FHC. Mas passemos pela idiotice e pela má-fé, lembrando por fim que o IBGE estuda tais mudanças faz mais de cinco anos, ao menos.
Uma novidade interessante foi a revisão, para baixo, da taxa de investimento. Passou da casa dos 20% do PIB para 16%. Grosso modo, a economia parece ser muito mais produtiva do que se imaginava. O PIB cresce mais com uma quantidade menor de investimento (em máquinas, equipamentos e instalações).
Em tese, isso significa que o investimento adicional necessário para fazer o país crescer mais, sem mais inflação, é menor do que se imaginava. O trabalhador e/ou o capital investido rendem mais do que se estimava. "Foi o que mais me chamou a atenção, numa primeira passada d"olhos", diz Joel Bogdanski, consultor de análise econômica do Itaú.
Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN, observa que o peso dos serviços na economia aumentou (em detrimento de agropecuária e indústria). O setor de serviços é, em geral, menos intensivo em capital (demanda menos investimento por unidade de produto que a indústria, por exemplo). Daí, talvez, se explique a alta da produtividade nos novos números do PIB.
Mas a revisão da taxa de investimento e a alta aparente da eficiência de capital e trabalho, para melhor, têm implicações importantes.
O PIB potencial é uma estimativa da tendência de crescimento "sustentável": quanto a economia pode, em tese, crescer sem alta de preços.
Ou, ainda, quanto investimento adicional é necessário para fazer o PIB crescer sem que ocorra insuficiência na oferta de produtos, o que causaria inflação e aumento na taxa de juros.
As evidências mais diretas do limite do crescimento do PIB ainda são o descontrole da inflação e o nível de utilização da capacidade produtiva (Nuci) da indústria. O aumento do Nuci indica que a demanda de produtos cresce sem que a capacidade de produção, de oferta, a acompanhe. A hipótese é a de que a inflação tenderia a crescer em seguida. Um ponto polêmico da avaliação do PIB potencial está aí, na variação do Nuci. Não se sabe bem quão rápida será a resposta das empresas à alta da demanda. O empresário pode aumentar a capacidade instalada ou utilizar com mais eficiência os fatores de produção (capital e trabalho).
Se para crescer a economia precisa de menos investimento adicional do que se imaginava e se a produtividade de capital e trabalho é mal conhecida, a medida atual do PIB potencial torna-se ainda mais imprecisa, assim como a previsão de inflação. Nas estimativas atuais, o Brasil só pode crescer 2,5% a 4% ao ano sem inflação. Trata-se de uma dispersão já obscena de grande. Com os dados do IBGE, o debate esquenta.

vinit@uol.com.br

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