Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 22, 2007

Clóvis Rossi - Os heróis de Lula




Folha de S. Paulo
22/3/2007

Primeiro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva mexeu na TR (a Taxa Referencial de juros), de tal forma que os rendimentos da poupança serão reduzidos.
Alguém aí ouviu algum outro alguém gritar "calote", "tunga", "quebra de contrato" ou algo parecido? Ou só silêncio?
Depois, constatou-se que, graças à mesma mágica besta do governo, também o FGTS será afetado, passando a ter rendimento inferior ao da inflação (ou seja, perda de renda, em bom português), dependendo do nível da taxa de juros.
De novo, gritos enfurecidos de "calote", "tunga", "quebra de contrato"? Nadica de nada, salvo uma reclamaçãozinha chocha do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, mais por não ter sido ouvido do que pela tunga. Reclamação que, de resto, só comprova uma vez mais que, no governo do Partido dos Trabalhadores, trabalhador não é ouvido nem cheirado, por mais que o presidente da República ainda se considere torneiro mecânico, profissão que não exerce há pelo menos um quarto de século.
Agora, experimente você mencionar "calote" (não necessariamente para defendê-lo) em relação à dívida pública. Cai-lhe o mundo em cima, por baixo, por baixo.
Ficamos então assim: "redutor" na TR, afetando o pequeno investidor e o assalariado, pode. Já o rendimento do grande investidor, que detém os papéis do governo, é absolutamente intocável, sagrado. Foi assim sempre, mas se tornou quase vício, verdadeiro dogma religioso no governo Lula, que fez a opção preferencial pelo mercado financeiro, ao qual dedica anualmente algo em torno de 7% ou 8% do PIB.
Dia virá em que Lula chamará de "heróis" o pessoal do mercado, como fez anteontem com os usineiros, no mesmo dia em que fiscais do trabalho encontravam trabalhadores da cana atuando em condições "degradantes".

crossi@uol.com.br

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