Artigo - Marcos Sawaya Jank |
O Estado de S. Paulo |
21/3/2007 |
A visita de George W. Bush gerou um impressionante volume de matérias e opiniões sobre biocombustíveis. O que não faltou foram reducionismos e preconceitos. Alguns merecem destaque.Primeiro mito: muita expectativa, nenhum resultado. Propagou-se a idéia de que a reunião traria grandes resultados em investimentos e comércioPublish. Como isso não ocorreu, o acordo teria fracassado. Vamos à realidade. Os EUA vão aumentar de duas a três vezes seu programa de etanol de milho em seis anos. Em conseqüência, os preços do milho já aumentaram 80%, afetando a produção de soja e carnes. Uma solução é produzir álcool mais competitivo, utilizando novos produtos e processos, como a hidrólise de biomassa (capins, no caso dos EUA, e bagaço de cana, no nosso). Nasce daí a oportuna cooperação bilateral em pesquisa e tecnologia. A segunda solução seria reduzir a tarifa de US$ 0,14 por litro e/ou ampliar a atual cota de importação, que hoje beneficia apenas o Caribe. Só que o tema ainda não está sobre a mesa, por se tratar de assunto do Legislativo americano, e nada mudará até 2009. Mas é do interesse de Brasil e EUA discuti-lo nos próximos dois anos. As importações do etanol barato ajudariam os EUA a equilibrar os preços da agricultura e dos combustíveis. O potencial é extraordinário: cada 1% de substituição de gasolina por etanol no mercado americano representa 8 bilhões de litros (US$ 4 bilhões), ou metade da atual produção brasileira. Segundo mito: monocultura. Na esteira dos exageros, reputados analistas mencionaram que este novo ciclo de monocultura de cana-de-açúcar nos levaria de volta ao tempo das capitanias hereditárias. Hoje temos 7 milhões de hectares ocupados com cana-de-açúcar, 50% para etanol e 50% para açúcar. A cana para etanol ocupa ínfimo 0,5% da área total e menos de 1% da área agricultável do País, sete vezes menos que a soja e 65 vezes menos que as pastagens. Em janeiro Bush lançou a meta de substituir 15% da gasolina dos EUA por combustíveis renováveis e alternativos, ou 132 bilhões de litros. Sabe-se que essa meta não será cumprida com etanol de milho, que tem rendimento por área 60% inferior ao da cana e custa o dobro. Imaginemos que os EUA resolvessem importar este enorme volume. Isso consumiria 20 milhões de hectares, o que dá três vezes a área atual de cana, mas apenas 7% da área total agricultável do País. Sem considerar a possibilidade de dobrarmos a produtividade de álcool se viabilizarmos a hidrolise de bagaço e liberarmos as novas variedades de cana que estão travadas na CTNBio. Ocorre que historicamente o Brasil substituiu as antigas monoculturas trabalho-intensivas por um sistema diversificado de produção capital-intensiva de alimentos, rações, fibras e agroenergia. Em termos nacionais, há cada vez menos monoculturas, e não mais! A revolução nasceu nos anos 70, com a expansão de soja, brachiaria, carnes e leite. A chegada da cana-de-açúcar ao Centro-Oeste marca o início de um novo ciclo de intensificação do uso da terra, de magnitude semelhante à observada nos anos 70. O valor oferecido para arrendamento de terras para cana vai eliminar os últimos bolsões de ineficiência agropecuária, nas grandes e nas pequenas propriedades. Produtores que tinham um retorno sobre patrimônio de 1% a 2% passarão a receber 6% a 7% ao ano. O tradicional agricultor patrimonialista sempre teve aversão a aceitar o custo de oportunidade do sistema financeiro, que na média oferecia retornos superiores aos obtidos no campo. Surge agora o custo de oportunidade da cana, visível no melhor padrão de vida do vizinho que arrendou suas terras. Soja, milho, algodão e cana disputarão o uso da terra em função de seus preços relativos e condições de logística e de rotação de culturas. A inevitável intensificação da produção de carnes e leite será o corolário do processo. Terceiro mito: Brasil “fazendão”. Economistas e ex-ministros avançaram a estapafúrdia tese de que o País está condenado a se tornar um grande “fazendão”. A expansão das commodities (agrícolas, minerais e agora agroenergéticas) produziria a apreciação do câmbio e a desindustrialização, num processo em que o Brasil estaria trocando seu “futuro” industrial e de serviços pelo “passado” da dependência de commodities de baixa tecnologia. É curioso este esporte nacional de malhar tudo o que está dando certo, de empresários a setores econômicos. Nossos ídolos são artistas ou jogadores de futebol, raramente empresários e nunca governantes. Se algo dá certo, ou tem malandragem ou não é tão bom assim. Primeiro, não é o FMI, a Rodada Doha, a Alca ou o álcool que estão condenando os setores menos eficientes da nossa indústria, mas sim a falta de instituições sólidas e reformas nas políticas públicas. Nossos maiores problemas são internos, e não externos. Segundo, não existe “agricultura contra indústria”, “agronegócio contra agricultura familiar”, “alta tecnologia na indústria e atraso nas commodities”. É inacreditável como este besteirol endêmico está enraizado no País. 70% do agronegócio é composto por indústrias e serviços correlatas à agricultura. O Brasil é líder mundial em tecnologia e custos agropecuários. Nossos maiores concorrentes nos mercados de commodities são países ricos que utilizam intensivamente seus recursos naturais. EUA, Canadá, Austrália, Suécia, Finlândia, Malásia e Chile são exemplos. Não há nada de errado nisso. Para resolver esta doença só há uma solução: antes de criticar, é preciso conhecer, visitar. Listem as indústrias mais dinâmicas do interior, que geram mais empregos. Visitem um frigorífico, uma usina sucroalcooleira, o Agrishow de Ribeirão Preto. Aproveitem uma das infinitas idas a Brasília para conhecer o Centro-Oeste verdadeiro, espelhado na alta qualidade de vida das regiões agrícolas de Goiás e Mato Grosso. Viagens e estatísticas curam preconceitos e ignorância!
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Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, março 21, 2007
Etanol - mitos, exageros e preconceitos
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