Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 16, 2007

Eliane Cantanhede - O fator Guiana




Folha de S. Paulo
16/3/2007

Bush fez gestos de aproximação com os "amigos" dos EUA na América Latina, enquanto Chávez despeja milhões de dólares na Argentina, no Paraguai, na Bolívia e certamente o fará no Equador.
Isso cria, ou pelo menos projeta, uma divisão do continente em dois blocos, um pró-EUA (seja quem for o presidente) e outro pró-Chávez (mais do que pró-Venezuela). E aí entra um fator delicado: a Guiana.
Na avaliação da inteligência militar brasileira, Chávez é tão direto no seu discurso belicoso contra Bush ("el diablo") porque precisa de um "inimigo externo" para mobilizar o patriotismo -ou o bolivarianismo- interno. Mas, se tentar passar da palavra à ação, não será contra Washington nem mesmo contra a vizinha Colômbia. E por que não contra a Guiana?
Chávez está armando ostensivamente a Venezuela, recorrendo à Rússia como seu grande fornecedor, mas não tem, nem terá, munição (no sentido literal) para enfrentar o poderio bélico da maior potência econômica e militar do planeta, atacando Washington ou sua protegida Colômbia. Se quiser dar uma demonstração de força, poderá ser via indireta. A Guiana é um prato feito.
O pretexto: a Venezuela reivindica até hoje cerca de 60% do território do vizinho. O motivo real: a Guiana recebe vultosas ajudas dos EUA (além do Canadá e do Reino Unido) e, em contrapartida, é generosa ao oferecer espaço e condições para treinos e operações militares americanas -bem ali, na fronteira com o Brasil e com a Venezuela. O Brasil não gosta e há anos observa.
Chávez vai além -teme a possibilidade de uma base militar americana nas suas barbas. Estejam ou não delirando os estrategistas brasileiros, o fato é que Chávez tem dado demonstrações de que não está brincando. Qualquer que seja a brincadeira, o Brasil vai acabar metido nela, por ar, por terra, e não apenas pela diplomacia.


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