Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 11, 2007

DORA KRAMER Um estranho no ninho

Um estranho no ninho

Jarbas acha que Jobim foi 'amador', iludiu-se com Lula e com o PMDB

O ex-governador de Pernambuco, senador estreante e relíquia remanescente do 'PMDB autêntico' da resistência democrática, Jarbas Vasconcelos virou uma ilha de oposição cercado de governistas por todos os lados em seu partido.

Fez uma tentativa de se engajar na vida partidária, apoiando o alegado projeto de Nelson Jobim de reunificar o PMDB, recuperar a identidade perdida e acabar com a era da dubiedade.

Analisando o episódio da montagem da candidatura e da renúncia de Jobim, porém, Jarbas Vasconcelos conclui que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal foi 'amador' na articulação dos apoios e 'extravagante' na condução de uma proposta de unidade.

'Se ele se predispunha a unir, deveria ter investido na composição e não partido para a disputa', diz. Além disso, deixou que a candidatura assumisse um perfil palaciano e não soube explorar o apoio das forças não-comprometidas com Lula, o que daria amplitude e conferiria legitimidade à postulação.

O senador está certo de que esse episódio renderá conseqüências, só não sabe ainda o tamanho e a dimensão delas. Desconfia, mas acha cedo para afirmar, que mais à frente terá mais parceiros de oposição.

'Muita gente, inclusive Jobim, viu que o PT não é confiável e que Lula não tem o menor compromisso com a palavra empenhada.'

À exceção da companhia de um ou outro pemedebista, aí incluído o senador Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos navega sozinho desde que, na virada do primeiro para o segundo mandato do presidente Luiz Inácio da Silva, o grupo oposicionista aderiu, sem, no entanto, abrir mão do direito ao exercício do 'racha' permanente.

Agora mesmo, em função da malograda tentativa (mais uma) de derrubar o deputado Michel Temer da presidência do partido via candidatura de Jobim, os pemedebistas voltaram a se dividir.

O movimento é curioso, pois inverte a lógica anterior: os que faziam oposição formam fileiras na ala dos fiéis, e os dois próceres do governismo no PMDB, senadores Renan Calheiros e José Sarney, declararam-se em estado de independência.

Injuriados com o desembarque de Lula do apoio a Jobim, consideraram-se traídos e querem dar ao governo uma demonstração explícita dessa contrariedade ausentando-se da convenção que reconduzirá Temer hoje à presidência. Isso, em função de Lula ter reconhecido a autoridade do reeleito comunicando-lhe, antes da convenção, a escolha do deputado Geddel Vieira Lima para o Ministério da Integração Nacional.

Jarbas Vasconcelos não vai à convenção por motivo diferente. Não quer sinalizar coisa alguma para o governo. Sua posição agora é de oposição dentro e fora do partido: não entra na briga dos grupos, mas também não convalida uma candidatura única que, na opinião dele, não representa 'nem a metade' do partido.

É, antes, a tradução de um hábil jogo interno de correlação de forças e de controle da máquina partidária, acumulados durante os oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso em que esse grupo participava do poder e continuou reforçado nos quatro seguintes pelo domínio da maioria dos diretórios regionais.

O senador não fala em sair do PMDB, embora essa possibilidade tenha freqüentado seu horizonte nos últimos tempos. Mas agora ele vislumbra alguma luz. 'Aconteceram coisas positivas. O rei se desnudou mais um pouco, mostrou que diz uma coisa e faz outra no dia seguinte. Literalmente, pois na véspera de chamar Geddel Vieira Lima ao Palácio, o presidente disse a Jobim que trabalharia para viabilizar a candidatura dele.'

Isso, na visão dele, pode trazer efeitos negativos para o governo mais à frente. Não agora, pois, na interpretação de Jarbas Vasconcelos, o comprometimento dos contrariados - inclusive governadores e quase a totalidade dos senadores - ainda é muito grande e eles não vão romper, muito menos entregar os ministérios que ocupam por intermédio de aliados.

'Mas o cristal trincou. O governo tropeçou, angariou antipatias e, sobretudo, desconfiança. O PMDB do Senado não vai para a oposição, mas não deixará passar as oportunidades de criar dificuldades pontuais.'

Vice-versa

O PDT foi informado de que pode ganhar o Ministério da Previdência. Ato contínuo, o PDT informou que, se for mesmo convidado, não fará reforma que resulte em perdas aos beneficiários.

Invertamos agora o raciocínio: e se o presidente Lula quiser tocar adiante a reforma previdenciária, o PDT desiste do ministério?

Seguramente, não. Dirá que, no comando da pasta, protegerá os trabalhadores.

Mas, como o presidente acha que não precisa mesmo de reforma e que a Previdência tal como está é resultado de uma política social, o dilema não se apresentará. Donde se conclui que a afirmação pedetista de resistência é pura bravata.

Aquém

Roseana na liderança do governo no Senado não está em pleno acordo com a expectativa do pai. José Sarney sentiria mais firmeza na relação se Lula tivesse dado a ela um ministério.

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