O Estado de S. Paulo |
7/3/2007 |
Nelson Jobim de vez em quando faz sucesso no topo, mas sempre claudica na base e isso explica não só a desistência de disputar a presidência do PMDB, como também o malogro da idéia anterior, de chegar à presidência da República, seja concorrendo como titular, ou integrando - na posição de vice - uma chapa que, por conta da pluralidade de suas relações, tanto poderia ser do PT como do PSDB. A justificativa de que desistiu porque o presidente Luiz Inácio da Silva resolveu apoiar a reeleição de Michel Temer e deu sinal disso quando chamou o governador da Bahia, Jaques Wagner, e o deputado Geddel Vieira Lima para confirmar a escolha do deputado como ministro da Integração Nacional, não pára em pé. Deu-se exatamente o oposto. O presidente só resolveu confirmar a indicação de Vieira Lima antes da convenção do PMDB, no próximo domingo, porque a parada estava perdida. Lula fez o que não fez explicitamente na disputa pela presidência da Câmara: pulou fora da canoa ao se confirmar a percepção de que tratava-se de uma embarcação fadada ao naufrágio. Jobim perdeu a sustentação presidencial porque não conseguiu viabilizar sua candidatura dentro do PMDB. E não conseguiu viabilizar sua candidatura dentro do PMDB porque o adversário tem a máquina na mão, porque à máquina não interessa se entregar à administração do Palácio do Planalto e porque ao principal aliado do PMDB, o PT, não apetece contribuir para o fortalecimento de um candidato a pretendente presidencial daqui a quatro anos. Muito menos sendo ele um aliado preferencial e devedor de Lula. Objetivamente, a candidatura de Nelson Jobim só confortava ao próprio e a um pequeno grupo do qual fazia parte o presidente da República até ficar patente a impossibilidade de vitória. O manifesto de apoios apresentado por Jobim na segunda-feira com o intuito de reforçar sua candidatura frente ao pleito de reeleição de Michel Temer, diz bastante sobre a dificuldade do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal de transitar na massa e de manobrar em terrenos politicamente mais criativos. O documento em questão foi assinado por quase todos os governadores e senadores do partido, mas, dos deputados, Jobim só conseguiu o voto de 29 entre os 89 da bancada. A gradação de preferências aplicada ao aparato partidário País afora - deputados estaduais, prefeitos, vereadores, presidentes de diretórios locais - é auto-explicativa da dianteira de Temer para a disputa de domingo. Jobim é filiado antigo, saiu quando foi indicado por Fernando Henrique Cardoso para o Supremo Tribunal Federal, voltou ao deixar o STF para retornar à vida política, mas, enquanto esteve fora, Temer presidiu por oito anos o PMDB. Conhece as idiossincrasias da estrutura. Enquanto sentou praça na oposição, ganhou todos os embates internos com a ala governista, a despeito da força delegada pelo Palácio do Planalto aos senadores Renan Calheiros e José Sarney. Por essas e algumas outras ligadas ao interesse dos recém-convertidos ao governo em manter pressão é que Temer tem se revelado um páreo mais duro que o previsto. Ele não está sozinho. Talvez tenha sido a suposição errônea de que atuava isolado o que levou o presidente Lula, mais uma vez, a acreditar na mercadoria que Calheiros e Sarney nunca puderam, e continuam sem poder, lhe entregar: o controle do PMDB. Com todo o fisiologismo inerente ao pemedebismo pós-redemocratização, a consciência do poderio da máquina federada ainda prepondera sobre a potência centralizada do Diário Oficial. Esse grupo que oficializa sua adesão a Lula e, com a chegada de Vieira Lima ao Ministério, a retomada de um poder perdido na eleição de 2002, sabe perfeitamente bem que seu vigor reside em não se entregar de bandeja. Se o fizesse aceitando o comando de Nelson Jobim, viraria caudatário das vontades do Planalto. Seu poder de fogo estaria reduzido a pó. O presidente Lula, de seu lado, apenas deu um passo atrás agora, para acumular forças até que as condições objetivas lhe permitam dar dois passos à frente em momento mais oportuno. Afinal, o tempo urge e Luiz Inácio já não pode se dar ao luxo de colecionar derrotas desnecessárias. A conferir Não há incongruência no fato de, ex-sindicalista, Lula tomar a iniciativa de encaminhar ao Congresso proposta de regulamentação do direito de greve no funcionalismo, cuja definição jurídica vaga no vácuo desde a Constituinte de 1988. Ainda mais que a defesa da lei disciplinar foi um compromisso firmado por ele desde o início do primeiro mandato, quando abordava, com a propriedade dos conhecedores da causa, a necessidade imperiosa de se organizar a atividade sindical. O problema não é o presidente se propor agora a cumprir o prometido, mas saber se ele vai mesmo levar adiante o plano. O abandono da outra parte do compromisso - a reforma sindical - por causa da pressão “companheira” não recomenda otimismo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, março 07, 2007
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