Daqui a dez dias, a Câmara dos Deputados poderá comemorar o primeiro aniversário do inesquecível show da ex-deputada Ângela Guadagnin - destacada representante da poderosa seção paulista do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que, na sessão noturna de 23 de março de 2006, conquistou fulminante celebridade nacional e até internacional com a dança improvisada com passos e requebrados de bailarina, quando sambou e cantou para o plenário para comemorar a absolvição do companheiro de legenda e amigo dileto, o então deputado João Magno, envolvido até o gogó no esquecido escândalo do mensalão.
A cena registrada pela mídia, exibida pelas TVs com repetições para atender aos pedidos dos telespectadores, é descrita com riqueza de detalhes pelos jornais e revistas. Fim de sessão, na virada da meia-noite, os dois principais atores estavam sentados em cadeiras próximas. Mais ao fundo, o deputado João Magno acompanhava cada voto anunciado pelo então presidente da Casa, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e erguia o polegar para comemorar a absolvição esperada.
Antes de ser proclamado o resultado oficial, Ângela Guadgnin levantou-se e caminhou para o abraço ao amigo e correligionário. E desfilou pelo corredor sambando, com os braços erguidos, na cadência do rebolado. Como sempre, a reação da Câmara foi imediata e severa, embora limitada à escassa minoria. Mas, ao menos no caso, o eleitorado puniu os dois artistas com a recusa de novo mandato.
O registro do episódio do baixo nível do deboche justifica-se como lembrete, exatamente quando o Congresso, o governo e os partidos saltitam no repeteco de espetáculo parecido, mais inclinado para o lado da hipocrisia.
Enquanto o presidente reeleito curte os mais de 70 dias dedicando o mínimo tempo possível às tediosas rotinas de governo, o Congresso engole o grito de restauração ética, abaixa a guarda, alivia a valentia e vai tocando a viola, afinada pela nota da impostura: ninguém está empenhado na reforma política e na fanada cruzada moral. E o presidente, depois de reeleito, jamais cogitou de uma reforma ministerial.
Depois de uma trégua para selar o esquecimento dos vexames do passado, alguns ecos de falcatruas antigas ressuscitam venerandas denúncias. E a Polícia Rodoviária Federal deteve em operação rotineira na BR-040, por ultrapassagem ilegal, o assessor do deputado Aracely de Paula (PR-MG), Emílio de Paula Castilho, que transportava na mala do carro uma caixa de papelão lacrada com R$ 79,7 mil em dinheiro vivo. Não é o primeiro a ser pilhado em tais encrencas.
Um medíocre episódio. Mas com a sua significação. O natalício do forró da passista Ângela Guadagnin e o flagrante policial envolvendo mais um assessor de parlamentar com mala de dinheiro integram-se no painel de fundo da comédia das reformas, com elenco de peso e importância. Das enfáticas promessas de cortes drásticos na farra das mordomias, vantagens, benefícios, na escabrosa verba indenizatória, tão mal-falada; na verba para a contratação de assessores para os gabinetes individuais de senadores e deputados e outras urgentes medidas moralizadoras sobrou um cesto de medidas, realmente necessárias, mas que estão a léguas das reformas dos discursos de campanha. Não ousam além da bloqueada redução do número de partidos ou do tiro de misericórdia na suspeita troca de legendas.
Depois de tanto desperdício de tempo e de conversa fiada, Lula e seus assessores diretos descobriram que presidente reeleito não precisa nem deve cair na ratoeira de reformar o ministério. Retoques para fechar a barganha com partidos para reforço da base de apoio parlamentar não caracterizam a reforma ampla e profunda, no caso até com a extinção de pastas e secretarias.
Lula vai curtir o segundo mandato fazendo o que gosta: viagens, discursos, promessas, inaugurações e o culto à imagem do mais descarado auto-elogio.
Entrevista:O Estado inteligente
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