Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 24, 2007

Collor posa de vítima em sua estréia no Senado

Passado a limpo

Fernando Collor volta à cena de olho
no
futuro e tentando enganar a história


Otávio Cabral

Sergio Lima/Folha Imagem
Collor ficou a cara de MacNavalha, o anti-herói vivido por Andreas Frege

O senador Fernando Collor reapareceu com cabelos escurecidos e dentes muito brancos, escondendo uma língua afiada como punhal. O visual remete à figura de MacNavalha, da balada medieval, transformado em anti-herói pelo alemão Bertolt Brecht. Collor tem promovido um constrangedor reencontro com a própria história. Há duas semanas, ele foi à tribuna do Senado e fez seu primeiro pronunciamento como parlamentar, exatamente quinze anos depois de ter sido afastado da Presidência da República. Por pena, respeito, cumplicidade ou outro sentimento menos nobre, os senadores ouviram passivos Collor chorar e se colocar no papel de vítima de uma farsa política. Na quarta-feira passada, o senador Pedro Simon, que integrou a CPI que investigou as atividades do governo Collor, lembrou aos esquecidos que o ex-presidente foi afastado do cargo porque ficou provado que ele e sua família se aproveitaram de um esquema de corrupção montado pelo seu amigo e tesoureiro de campanha Paulo César Farias. Não houve perseguição, abuso ou preconceito. Collor sofreu impeachment porque não soube honrar o cargo para o qual foi eleito. As instituições funcionaram como deviam e ponto final. Collor pretende reconstruir sua carreira política, tem o direito de fazê-lo, mas não é um bom início apostar no futuro começando por tentar maquiar o passado.

Ed Ferreira/AE
Simon: o que houve foi corrupção


Na semana passada, Fernando Collor esteve com o presidente Lula. Foi a primeira vez que ele voltou ao Palácio do Planalto depois da cassação. O senador foi recebido pelo presidente na condição de representante do PTB. Um dos presentes ao encontro contou que houve momentos de camaradagem. Nem parecia que os personagens ali já haviam protagonizado o episódio da exposição pública de uma delicada questão pessoal de Lula: a existência de uma filha fora do casamento. "É como se fosse uma coisa que nem sequer tivesse existido", explicou Collor, sobre as antigas divergências. Collor tem dito a amigos que pretende disputar as eleições presidenciais de 2010 pelo PTB de Roberto Jefferson. O senador se diz surpreso com a popularidade. Garante ouvir constantemente de taxistas, garçons e até dos funcionários do Senado apelos para que se candidate novamente à Presidência. "Após os escândalos do governo Lula, a minha vida mudou. Nunca mais fui hostilizado", diz. Collor avalia que, em princípio, não tem chance de se eleger, mas pode ter uma votação significativa e voltaria a ter influência na política nacional. Ainda assim não se pode querer apagar o passado. "Doch das Messer sieht man nicht..."

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