SÃO PAULO - Fernando Collor de Mello parecia uma anomalia na política brasileira. Afinal, conseguiu a extraordinária proeza de ser o único presidente, na indecorosa história da República, a ser punido por falta de decoro.
Na quinta, o indecoroso que já não o é, segundo seus pares, foi reverenciado pelos virtuosos que nunca o foram, mas fingiam sê-lo.
A começar pelo PT, seu mais implacável adversário até anteontem, que silenciou sobre tudo o que Collor simboliza. Ajuda-memória, complementar ao belo artigo do historiador Marco Antonio Villa publicado ontem por esta Folha: Collor é a Casa da Dinda e seu fausto de república bananeira; é a Operação Uruguai e a entronização do caixa dois; é PC Farias e seus negócios escusos à sombra do poder e sua morte até hoje inexplicada, o que leva à inescapável suspeita de queima de arquivo.
No campo administrativo, Collor é o confisco da poupança e de ativos financeiros e também dois anos de recessão em três de gestão.
Como é possível silenciar diante de tamanha esculhambação? Simples: os dois partidos que se revezam no poder no pós-Collor mantiveram a esculhambação no mais alto do pódio.
O pós-Collor é a compra de votos para aprovar a emenda da reeleição, é conduzir suculentas privatizações "no limite da irresponsabilidade", é o mensalão, são os sanguessugas, é Waldomiro Diniz, é a quebra do sigilo bancário de uma testemunha potencialmente incômoda para uma alta autoridade (extremo, aliás, a que não chegaram os "colloridos").
Tudo somado, tem-se que, em vez de anomalia, Fernando Collor de Mello é o político-padrão da pátria, se me perdoam os poucos que fogem do padrão.
Dá um bom candidato para 2010.
Já está mesmo na base governista, com o PTB, e como se viu, tem a simpatia do PSDB e do PFL.
Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, março 18, 2007
CLÓVIS ROSSI Collor-2010
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