Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 24, 2007

CLÓVIS ROSSI Brasil, esse desconhecido


SÃO PAULO - Diz a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) que o setor encolheu 2,12% no ano passado.
Já o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) jura que a agricultura cresceu 3,2% em 2006, conforme a antiga metodologia para medir o PIB (Produto Interno Bruto, tudo o que um país produz de bens e serviços).
Quem tem razão? Diz o IBGE que sua conta dá maior ênfase à produção que aos preços. Já a CNA informa que a produção de fato cresceu, mas não cresceu o suficiente para compensar a queda nos preços, do que teria decorrido o empobrecimento da agricultura.
Não entendo nada de estatística, mas o mais elementar sentido comum indica que preço é variável essencial. Digamos que você tenha produzido dez "coisas" em 2005 e cada uma valia R$ 1. Seu "PIB" era, portanto, de R$ 10.
Já, no ano seguinte, você produziu 15 "coisas", mas cada uma caiu de preço para R$ 0,50. Seu PIB também caiu, para R$ 7,5. Logo, você empobreceu.
A diferença entre a CNA e o IBGE não é banal. Considerando-se que o PIB agrícola é, segundo a nova metodologia do IBGE, de R$ 120 bilhões, se tivesse crescido os 3,2% apontados pelo instituto, o "lucro" seria de R$ 3,84 bilhões. Já o "prejuízo", pelas contas da CNA, teria sido de R$ 2,54 bilhões. Um buraco negro, portanto, de portentosos R$ 6,38 bilhões.
Se a CNA tiver razão (sua pesquisa tem o aval da USP), decorre um outro problema: o PIB global brasileiro não teria o tamanho que o IBGE lhe atribuiu. Até onde sei, não pesam suspeitas sobre a seriedade do IBGE ou da CNA/USP. Mas a enorme discrepância entre suas respectivas contas mostra que o Brasil navega às cegas em um mar de números, carregados aliás de "arbitrariedade", no dizer da colunista Míriam Leitão em "O Globo" de ontem.


crossi@uol.com.br

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