O jornalista Franklin Martins, futuro ministro das áreas de imprensa e publicidade do governo Lula, concede uma entrevista a Kennedy Alencar na Folha deste sábado. Faz a defesa da pluralidade da imprensa, diz que a tal nova TV — aquela pública — não será uma voz oficial do governo e que não vê mal nenhum em ser o homem que vai, a um só tempo, lidar com informação e com a grana bilionária da publicidade. Tudo parecia caminhar de forma muito ponderada e calma, até que (volto depois)... FOLHA - Como ministro, o sr. manterá o processo contra o jornalista Diogo Mainardi? FRANKLIN - Vou. FOLHA - Por quê? FRANKLIN - Não estou fazendo nada contra a liberdade de imprensa. Manter o processo contra esse senhor não tem nada a ver sobre o que eu penso ou o que ele acha que eu penso. É um direito que ele tem. Ele me acusou de crimes, de ter praticado tráfico de influência e de ter participado da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa. Sem nenhum elemento. Mais do que isso, ele e a revista dele ["Veja"] se recusaram a publicar a minha resposta. Que liberdade de imprensa é essa na qual um lado fala e nem sequer publica o outro lado? Fiz o que se faz no Estado de Direito. Quando se acha que sua honra foi atingida, se recorre à Justiça. FOLHA - Como ministro, não ganhará mais peso esse processo em seu favor? FRANKLIN - A Justiça não vai agir assim porque sou ministro. Pelo ritmo no Brasil, a Justiça só terá julgado esse processo depois que eu deixar de ser ministro. Ele terá toda a oportunidade de provar todas as acusações. E, se for isso, quem vai ficar mal sou eu. FOLHA - Esse episódio foi determinante para a sua saída da Globo? FRANKLIN - Fiz essa pergunta à direção, e eles disseram que não. A alegação que me deram é que eu estava com imagem fraca como jornalista. Eu disse a eles que achava que a explicação não me convencia. A pergunta tem de ser feita à Globo. (...) FOLHA - O sr. participou da luta armada contra a ditadura militar de 1964. Como avalia hoje aquele período? Arrepende-se de algo? Faria diferente? FRANKLIN - [Faria] muitas coisas diferentes com a visão que tenho hoje. Não me arrependo do central. Lutei do lado certo. Lutei ao lado da democracia contra a ditadura. Assinante lê íntegra aqui Voltei Huuummm. Vamos ver. Repararam que o futuro ministro nem mesmo pronuncia os nomes de Diogo e da Veja? Não pega bem para quem, no governo, deve se comportar como um árbitro, falando em nome do estado neutro. Ao fazê-lo, demonstra que deixa a sua paixão pessoal se sobrepor à sua nova condição. Até porque a boa mítica para Franklin é entrar no governo como um ministro técnico, não como um petista, certo? Ou seríamos forçados a acreditar que homem tão experiente não se converteu ao petismo há duas semanas, quando foi convidado. Seria ele petista desde antes, quando na Globo e na Bandeirantes? Só faço essa observação porque as respostas são incompatíveis com a frieza técnica, racional e burocrática que ele vinha exibindo até então. A segunda questão que me incomodou: Franklin aderiu à luta armada e seqüestrou um embaixador na juventude. Diz que não se arrepende “do central”. E acrescenta: “Lutei do lado certo. Lutei ao lado da democracia contra a ditadura.” Opa! Que ele ache aquele o lado certo, problema dele. Que, à época, lutasse pela democracia, aí, não. Franklin lutava pela implantação de uma ditadura comunista no Brasil. E ele tem de reconhecer isso em nome da objetividade jornalística. Última questão: os jornais têm feito referência ao processo que ele move contra Diogo Mainardi, mas parece que se negam a dizer por quê. É o caso de recuperar. Foi por causa destas duas colunas: Jornalistas são brasileiros – 19 de Abril de 2006 Franklin Martins é o principal comentarista político da Rede Globo. Um de seus irmãos, Victor Martins, foi nomeado para uma diretoria da Agência Nacional do Petróleo. Os senadores que aprovaram seu nome levaram em conta o parentesco ilustre. Luiz Otávio, do PMDB, comentou: "Os 42 votos favoráveis a Victor Martins são uma homenagem nossa ao jornalista Franklin Martins". Heráclito Fortes, do PFL, concordou: "Ele acrescenta à sua biografia o fato de ser irmão de um grande jornalista". Aloízio Mercadante, do PT, arrematou: "Victor Martins é um profissional competente e vem de uma família marcada pelo processo de resistência democrática". Lula entregou a Agência Nacional do Petróleo ao PCdoB. Victor Martins não obteve o cargo através do partido. Ele foi indicado diretamente na cota de seu irmão, Franklin Martins. Ivanisa Teitelroit, mulher de Franklin Martins, também já mereceu sua parcela de cargos públicos. Deve ser a isso que Aloízio Mercadante se refere quando fala em "resistência democrática". (...) Franklin, o conceituado – 26 de Abril de 2006 No último dia 18, o presidente Lula encaminhou aos senadores a mensagem número 115/06, prorrogando por quatro anos o mandato do irmão de Franklin Martins na ANP. No mesmo dia 18, Franklin Martins anunciou que me processaria por causa da coluna da semana passada, em que citei seu caso para demonstrar a promiscuidade entre jornalistas e políticos. Franklin Martins alega que seu irmão foi nomeado pelo presidente Lula porque é um "profissional conceituado na área do petróleo". É exatamente o mesmo argumento usado por todos os responsáveis pelo aparelhamento petista: contrataram apenas profissionais conceituados. Eu acredito tanto na palavra de Franklin Martins quanto na de seu companheiro José Dirceu. Franklin Martins me desafiou a apresentar um único senador que tenha sido pressionado por ele para favorecer seu irmão. Eu sei que Franklin Martins jamais pediu algo a um senador. Eu sei também que muitos parlamentares jamais pediram o mensalão. Foi-lhes oferecido. Eles simplesmente aceitaram. O Globo noticiou que o irmão de Franklin Martins foi indicado à ANP pelo governador Paulo Hartung, de quem ele seria "afilhado político". Paulo Hartung tem outro "afilhado político" na mesma família. Trata-se da irmã de Franklin Martins, Maria Paula. Ela foi licenciada pela ministra Dilma Rousseff para assumir a diretoria-geral da Aspe, a estatal capixaba que regula o setor do gás. A Aspe é ligada à ANP. Ou seja, o irmão de Franklin Martins trata com a irmã de Franklin Martins. É muito "profissional conceituado" para uma família só. Em 1997, os diretores de O Globo, seguindo as normas internas do jornal, afastaram Franklin Martins da sucursal de Brasília porque descobriram que sua mulher, a psicanalista Ivanisa Teitelroit, arranjara um emprego no gabinete do líder tucano José Anibal. Quase uma década depois, Franklin Martins ainda não conseguiu entender o que há de errado nisso. Tanto que, no atual governo, sua mulher foi nomeada para o cargo de secretária parlamentar do líder petista Aloizio Mercadante, de acordo com o processo número 004884/05-1. Ivanisa Teitelroit não está mais no gabinete de Aloizio Mercadante. Ela agora trabalha numa subsecretaria do Ministério do Planejamento, na sala 207, 2º andar. Mudaram os patrões, mas a prática continuou igual. Nas últimas semanas, o que mais se comentou no meio jornalístico foi que Franklin Martins teria integrado o comando que quebrou o sigilo do caseiro Francenildo Costa. É nisso que dá empregar familiares no governo. Jornalistas não estão acostumados a prestar contas a ninguém. Franklin Martins reagiu de modo claramente desequilibrado ao meu artigo. Chamou-me de "difamador", "leviano", "anão de jardim", "doidivanas", "bufão", "caluniador", "tolo enfatuado" e "bobo da corte". De todos os insultos, só não aceito o último. Quem pertence à corte é ele, que tem o irmão nomeado diretamente pelo presidente da República. Menos adjetivos, jornalista Franklin Martins, e mais fatos. Franklin Martins não se limita a pertencer à corte: é um súdito fiel. Em seu manifesto contra mim, ele reconhece que tenho o direito de pedir o impeachment de Lula, mas acrescenta que "não posso ficar amuado se alguém, por isso, chamar-me de golpista". Eu não fico amuado. Pode me chamar de golpista, Franklin Martins. Pode me chamar do que quiser. Eu não sou um "profissional conceituado" da área do jornalismo. |
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Entrevista:O Estado inteligente
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sábado, março 24, 2007
Uma entrevista de Franklin Martins. E Diogo, “esse senhor”
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