BRASÍLIA - Uma parte dos deputados quer ter o direito de receber cerca de R$ 5.000 por mês para gastar sem ter a obrigação de apresentar recibo. É um escárnio. O defensor da idéia é o deputado Virgílio Guimarães, do PT de Minas Gerais. Seu argumento é uma espécie de atestado de conformismo diante do atraso do país. Ele detectou um problema nada novo -a dificuldade de obter recibos para determinados produtos e serviços.
Em vez de propor formas de solucionar o obstáculo de maneira decente e perene, foi na direção oposta: acha melhor desistir de uma vez de exigir a documentação fiscal.
Espontâneo, Virgílio descreveu a realidade dos probos deputados: "É o sujeito que pega um táxi e esquece de pedir a nota. Imagina essa situação desagradável de um deputado ter que aumentar uma nota para compensar a outra. É natural que haja uma flexibilidade".
Errado. Não é natural. Além de ser crime fiscal o que andam fazendo certos deputados, como diz Virgílio. Sim, pois o petista sugeriu em público que alguns de seus colegas falsificam suas contas. Quem faz isso? Qual é a extensão da trambicagem? As respostas precisam ser dadas pela Câmara, sob pena de os honestos -eles devem existir- ficarem com a pecha de falsificadores.
Dada a reação negativa geral a respeito do dinheiro para gastos livres, é possível que a proposta não prospere. É pouco. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, fica com a responsabilidade de abrir todas as prestações de contas dos deputados para proteger os corretos.
Essa divulgação dos dados, não é demais lembrar, é promessa de campanha -ainda não cumprida- de Chinaglia.
Sem essa atitude da direção da Câmara, o distinto público está autorizado a generalizar, acreditando que ali são todos iguais. Não há percepção pior para a democracia.
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