Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 10, 2007

Celso Ming Vacilou, perdeu



O álcool como combustível levou 30 anos para tornar-se indiscutível sucesso nacional. Nada menos que 83,5% dos veículos novos são bicombustíveis e rodam preponderantemente a álcool. A partir de agora, o álcool tem tudo para tornar-se sucesso internacional.

Mas, se não agir com determinação, o Brasil perderá espaço para produtores com tradição no setor, sobretudo do Caribe.
Oferta e consumo, de 50 bilhões de litros por ano, estão hoje concentrados nos Estados Unidos e no Brasil. No ano passado, os Estados Unidos chegaram à liderança na produção, graças à rápida expansão do etanol de milho.Mas o baixo custo de produção e o grande potencial de expansão da área agricultável deixam o Brasil em excelentes condições.

É baixa a probabilidade de que os Estados Unidos consigam produzir mais do que 55 bilhões de litros por ano. Apenas para garantir os 113 bilhões de litros do consumo anual até 2017, como anunciado pelo presidente Bush, precisarão dobrar o suprimento.

Os Estados Unidos não têm área agricultável para a expansão e ainda não sabem como evitar as distorções. A partir de setembro de 2006, as cotações do milho em Chicago saltaram 61%, com impacto sobre os preços das rações animais e dos alimentos.

Outra opção é o desenvolvimento da tecnologia do etanol a partir da celulose (cavaco, palha de cereais e gramíneas), assunto analisado nesta coluna no dia 3, que também está longe de garantir a mesma produtividade do álcool a partir da cana-de-açúcar.

O Brasil é candidato natural a suprir a demanda mundial, que tende a se alargar para substituir derivados do petróleo, em grande parte produzidos em áreas de conflito, e para deter o aquecimento do planeta causado pela queima de combustíveis fósseis.

Mas ninguém se iluda. O objetivo do governo americano não é importar etanol do Brasil. É favorecer a produção no Caribe, cujos países já têm uma longa história de cultivo da cana-de-açúcar. E não seria de se estranhar se o governo cubano, com ou sem Fidel, também começar a dotar suas usinas de açúcar com destilarias para ajudar a suprir a demanda mundial do produto.

De acordo com os últimos levantamentos da Unica, que cuida dos interesses dos usineiros do Centro-Sul, o Brasil tem 336 usinas em operação. Outras 73 estão em fase de implantação e 189 em planejamento. É uma dianteira e tanto. Mas as grandes potências vão despejar bilhões para tirar o atraso. Se o Brasil não acompanhar, ficará para trás.

Dois são os focos de vacilação por aqui. Um é de natureza ambiental. Multiplicam-se as denúncias de que a expansão da cultura de cana-de-açúcar vai deslocar a produção de alimentos e transformar o País num “imenso canavial”. O outro teme a excessiva entrada de dólares, seja como capitais destinados à produção de etanol, seja como receitas de exportação do produto, que empurre a valorização do real e tire competitividade da indústria. Mas nada disso é incontornável.

As oportunidades históricas são raras. Vacilou, perdeu. Talvez para sempre.

E-mail: celso.ming@grupoestado.com.br

Arquivo do blog